Os acidentes de trabalho são responsáveis por quase 15 mil mortes no Brasil por ano. No Paraná, segundo dados de 2003 da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), 216 pessoas morreram, 812 ficaram permanentemente incapacitadas e 3,7 mil receberam tratamento médico prolongado. Foram registrados 30 mil acidentes no mesmo período. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que os acidentes de trabalho ou doenças relacionadas causem 2,2 milhões de mortes em todo o mundo, por ano.
Segundo especialistas, os números sofrem um decréscimo no Brasil, mas ainda é preciso fazer muito para minimizar o drama de milhares de trabalhadores e de suas famílias. As melhorias nessa área foram discutidas ontem no 1.º Encontro Tripartite de Segurança e Saúde do Trabalhador do Setor Metalúrgico da Região Metropolitana de Curitiba, promovido pelo Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC) e pelo Sindicato das Indústrias Metalúrgicas (Sindimetal).
O médico do trabalho e auditor fiscal da Delegacia Regional do Trabalho de Minas Gerais, Mário Parreiras de Faria, um dos palestrantes do encontro de ontem, informa que o Brasil gasta R$ 3 bilhões em benefícios por ano aos acidentados no trabalho, o que representa 4% dos auxílios da Previdência Social. Ele acredita que os índices estão melhorando, mas ainda estão altos perante padrões internacionais. "As estatísticas levam em conta apenas os trabalhadores formais (23 milhões no Brasil). Essa é uma pequena parcela do problema. A dificuldade é trazer essas pessoas para a formalidade", afirma.
De acordo com Faria, 35% dos acidentes estão no segmento de metalurgia, com mutilações e doenças ocupacionais. "No setor metalúrgico, o problema é a terceirização, que atingiu altos níveis. Isso leva a piores condições de trabalho e maquinário, provocando muitos acidentes", explica Faria. Ele revela que os números começam a entrar em uma estabilidade, o que indica a necessidade de estratégias para a diminuição dos riscos e dos acidentes nas empresas.
O médico e assessor de Segurança do Trabalho do SMC, Zuher Handar, acredita que prevenção é a palavra-chave para diminuir a grande quantidade de acidentes de trabalho. "As relações entre empresa e funcionários estão em processo de maturidade. Isso precisa ser constante e fortalecido para se obter melhorias. É preciso ter em mente que os custos para cobrir o acidente são muito altos, enquanto a prevenção é barata", comenta.
Para Handar, o grande desafio nesse momento é a investigação das doenças ocupacionais, que ameaçam cada vez mais os trabalhadores. "Tem muita doença para conhecer ainda. Novas maneiras de se trabalhar geram novos riscos e novas doenças relacionadas com o trabalho. É difícil as pessoas perceberem doenças desencadeadas ou agravadas no ambiente de trabalho. É preciso trabalhar no diagnóstico, na investigação, para detectar de maneira precoce", explica. Todos os acidentes, com afastamento ou não, devem ser comunicados pela empresa aos órgãos competentes. O não-cumprimento pode resultar em penas impostas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Ministério Público e Ministério do Trabalho.
Serathiuk lamenta índices elevados
O delegado regional do Trabalho, Geraldo Serathiuk, participará da 4.ª Conferência Estadual de Saúde do Trabalhador, que acontece entre hoje e domingo, em Curitiba. Serathiuk fará parte da mesa de abertura e falará sobre a necessidade de mecanismos de articulação entre os órgãos que atuam na área da saúde e segurança do trabalho. A abertura será às 20h, no auditório do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon). Amanhã e domingo, o evento acontecerá no Centro de Convenções de Curitiba, das 8h às 12h.
Segundo Serathiuk, o Paraná é o 4.º colocado em índices de acidentes. "Sem contar os acidentes ocorridos no setor informal, onde as condições de trabalho são mais precárias e o trabalhador vitimado e seus familiares não têm cobertura previdenciária", frisa o delegado do Trabalho. A cada ano, a quantidade de denúncias de acidentes e doenças ocupacionais recebidas pela Delegacia Regional do Trabalho e Ministério Publico do Trabalho aumentam. Como, por exemplo, nas montadoras, bancos, frigoríficos, madeireiras e hospitais.