Acadêmicos do Provar sofrem com o preconceito

Uma pesquisa que vem sendo desenvolvida por alunos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) apontou que existe preconceito e discriminação em relação aos acadêmicos que entram na instituição pelo Provar – programa de aproveitamento de vagas remanescentes. O problema ocorre não apenas entre os colegas de classe, mas também entre professores e funcionários.

A pesquisa começou a ser feita em agosto deste ano, e faz parte da disciplina de Preconceito e Práticas Escolares, coordenada pela psicóloga e professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação e do programa de pós-graduação em Educação, Tânia Maria Baibich-Faria. Segundo ela, foram entrevistadas 80 pessoas de diversos cursos e, em um levantamento preliminar, ficou evidenciado na maioria dos questionários um forte indício de discriminação. “Vão desde situações de caráter institucional até o relacionamento entre os colegas”, comentou.

Entre algumas situações relatadas pelos alunos estão as dificuldades para retirar a carteirinha do curso e a pasta junto ao centro acadêmico, além de problemas para freqüentar as aulas e validar as disciplinas. Eles comentaram, também, que não são convidados para eventos sociais e até encontraram pichações em carteiras fazendo referências a eles como se tivessem “entrado pela porta dos fundos” e estariam ocupando vagas de “segunda classe”.

Para Tânia, apesar de o Provar ter encontrado resistência por parte de diversos setores da universidade, “já que foi implantado sem melhorar a estrutura existente”, a forma também é válida. A professora comentou ainda que uma avaliação feita com os alunos do Provar 2004 demonstrou que eles têm rendimento igual ou superior aos que ingressaram pelo processo convencional.

Velado

Os resultados da pesquisa, diz Vânia, reafirmam um fenômeno que surgiu na década de 90 e demonstra uma situação velada. É o fenômeno de a pessoa se denominar contra o racismo. “Pelo fato de estar mais difundido que é politicamente correto se posicionar contra o racismo, dizem que não são, porém, as ações demonstram ao contrário”, explicou. Já as pessoas que são vítimas de preconceito ou discriminação, geralmente não têm reação, e acabam absorvendo o problema.

De acordo com a professora, as propostas para tentar acabar com o problema visam a continuidade das ações pedagógicas, junto aos alunos e comunidade em geral. Para isso, destaca Tânia, foi criado na universidade um espaço para que as pessoas possam falar sobre o assunto. Batizado de “Preconceito Nosso de Cada Dia”, os eventos acontecem nas quintas-feiras na Sala Homero de Barro, no prédio Dom Pedro I da UFPR, sempre com palestras e depoimentos sobre as mais variadas formas de preconceito.

Aliado a isso, estarão trabalhando na divulgação dos estudos sobre a discriminação, bem como, dando espaço para as pessoas que são vítimas de preconceito.

Reitor da UFPR confirma resistência

Lawrence Manoel

Segundo o reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Júnior, desde o primeiro momento que o Provar foi lançado, houve resistência por parte de alguns professores e alunos. Mas, com o tempo, essa resistência diminuiu e hoje a maioria absoluta dos 69 cursos da universidade aceita bem os alunos vindos do Provar. “O Provar veio para ficar. Não existe razão para que a sociedade pague por vagas ociosas”, afirmou, lembrando que 2 mil alunos já ingressaram na Federal pelo sistema e que, baseadas na idéia da UFPR, outras instituições já receberam 30 mil estudantes em todo Brasil. Moreira contou que um estudo com as notas dos alunos vindos através do Provar mostrou que eles têm índice de aprovação e reprovação igual aos demais estudantes da Federal. “Em alguns casos eles se saem até melhor que os antigos alunos”, disse.

O reitor lembrou que a instituição vai fazer um trabalho de conscientização da comunidade acadêmica para bem receber os alunos vindos do sistema de cotas para afrodescendentes e estudantes de escolas públicas, que será implantado no próximo vestibular. “Vamos criar inclusive um 0800 para denúncias. Se houver algum caso de preconceito, o estudante será punido integralmente nos limites da lei”, afirmou.

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