Muita pipoca, pinhão, quentão e fogueira. Começou o mês das festas juninas, tradição que ganha a simpatia dos brasileiros de norte a sul. No entanto, pouca gente sabe a origem da comemoração e a história dos santos homenageados neste período: Antônio, João, Pedro e Paulo.
As festas juninas têm origem portuguesa e são comemoradas no Brasil desde a chegada dos colonizadores. No entanto, só no século XVIII é que ganharam força com a criação das irmandades e confrarias que homenageavam os santos, principalmente em Minas Gerais. A partir desse período, a festa que era exclusivamente religiosa começou a ganhar ares folclóricos.
A festança começa no dia 13, data da morte de Santo Antônio de Pádua, natural da cidade de Lisboa, em Portugal. Santo Antônio era franciscano e dedicou sua vida aos pobres. Muitas igrejas hoje ainda mantêm a tradição de distribuir o pão doado pela comunidade para os mais carentes. Segundo a irmã Custódia Maria Cardoso, professora de música e folclore da Cúria Metropolitana de Curitiba, ele também tinha por hábito aconselhar as pessoas e, talvez por isso, tenha ganho a fama de casamenteiro. Existem ainda várias lendas sobre o assunto. Uma delas conta a história de uma moça que sempre pedia ao santo que a ajudasse a se casar. Mas como estava cansada de esperar resolveu jogar a imagem pela janela. Ela acabou caindo em cima de um rapaz que passava na rua. Os dois se conheceram e acabaram se casando.
O dia de São João Batista é comemorado na data do seu nascimento, 24 de junho. Ele era filho de Isabel, prima de Maria, mãe de Jesus. São João anunciou a vinda de Jesus e realizou seu batizado. Uma das explicações para o uso de fogueiras durante a sua festa é o fato de não haver luz elétrica quando começaram as primeiras comemorações. A outra é porque Isabel acendeu uma fogueira para comunicar o nascimento de João Batista para o mundo.
O dia de São Pedro é comemorado na data de sua morte, 29. Ele foi o primeiro papa da Igreja Católica. Já São Paulo não é homenageado nas festas juninas, mas a igreja lembra de seu nome nas liturgias. Ele foi um grande evangelizador.
Embora as festas juninas sejam comemoradas de norte ao sul do País, cada região segue um costume local. No Nordeste, onde as comemorações duram vários dias, os pratos tradicionais mais servidos são pamonha, milho cozido e curau de milho. No Sul é o pinhão e o quentão que caracterizam a festa. Já a quadrilha é um ponto comum nas duas regiões. Ela tem origem nas danças de salão francesas. Quando foi introduzida no Brasil tinha passos lentos, mas aos poucos foi ganhando mais vibração. Alguns comandos, como o balancê, mostram a origem francesa.
Quentão é proibido para criança
O consumo de quentão, bebida à base de vinho e álcool, é comum entre pessoas de várias idades nesta época do ano. Pelo fato de ser vendida em escolas e igrejas, muita gente encara com naturalidade o acesso de crianças e adolescentes à bebida. No entanto, a psicóloga do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Gilka Correia, afirma que 95% das pessoas que desenvolveram a dependência química tiveram o primeiro contato com o álcool na adolescência.
Segundo Gilka, os pais não devem baixar a guarda contra o consumo de álcool durante as festa juninas. Ela explica que a criança e o adolescente guardam na memória a sensação de euforia e de prazer que sentem com a bebida. Mais tarde, quando quiserem repetir o efeito, já sabem onde recorrer.
A psicóloga critica a cultura brasileira que coloca o consumo de álcool como essencial em qualquer tipo de comemoração, seja em família ou entre amigos. Os jovens acabam absorvendo esses parâmetros. Ano passado, mais de 400 dependentes de álcool passaram pelo hospital em busca de tratamento. No entanto, o índice de desistência foi 30%, porque muita gente não consegue se afastar da bebida. A maioria que pede ajuda já perdeu a família, bens, emprego e desenvolveu algum tipo de doença, muitas sem cura, como a hepatite B e C.
Legislação
Segundo o promotor de Justiça da área da criança e adolescente, Murilo José Digiácomo, é crime vender ou oferecer bebidas alcoólicas para menores de 18 anos, entre elas o quentão. Ele explica que existe uma lei municipal que proíbe o acesso das crianças a bebida em qualquer local. Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente também considera a prática como criminosa. Quem desrespeitar a lei pode pegar entre seis meses e dois anos de detenção, além de multa.
A Secretaria Estadual da Educação foi mais longe ainda. A resolução número 1.879 de 2003 proíbe a presença do quentão dentro das escolas, seja para venda ou para distribuição gratuita. O chefe do setor de marketing da Associação de Amigos do São Lourenço, César Paes Leme, comenta que na sua região muitas escolas no ano passado já aderiram ao quentão de suco de uva ou ao chocolate quente. “A escola é um espaço de formação e não deve estimular o consumo de álcool”, fala. Agora eles estão espalhando a idéia para vários municípios do Brasil.
Além disso, os números revelam porque toda a sociedade deveria prestar mais atenção ao problema. Dados da Unesco mostram que 45,9% dos estudantes do ensino fundamental consomem esse tipo de bebida. Cerca de 50% das mortes no trânsito são provocadas pela ingestão de álcool e em Curitiba 90% das pessoas envolvidas em acidentes de trânsito são indiciadas pelo uso de álcool.