A história esquecida dos sobreviventes de Mazagão

A história da cidade de Mazagão Velho, na região do Amazonas, cuja comunidade atravessou o oceano Atlântico para se instalar no Brasil é o tema de três livros que serão lançados, no início do próximo ano, pelo professor curitibano Geraldo Peçanha, da Facinter. Ele esteve na localidade quatro vezes, sendo a primeira no ano de 2004, e se interessou pelo histórico, pelas curiosidades e cultura do lugar.

“Os livros devem ser fruto de uma tese de mestrado que comecei a desenvolver. O primeiro deve falar sobre como Mazagão Velho atravessou o Atlântico. O segundo sobre as questões culturais e o terceiro sobre diáspora (dispersão)”, comenta o professor.

Segundo Geraldo, quando Portugal conquistou o Marrocos, levou para lá negros da Nigéria para trabalharem como escravos, dando origem a Mazagão Velho. Mais tarde, o governo português perdeu a região de Mazagão e os habitantes de lá (militares portugueses e negros nigerianos) foram levados para Portugal.

Isolados

“Posteriormente, como Portugal estava conquistando o Brasil, a comunidade de Mazagão Velho foi transferida para Belém, no Pará, e na sequência, no ano de 1775, para uma localidade às margens do rio Mutuacá, na região do baixo Amazonas, onde permanece até hoje”, diz o professor. “No Brasil, apenas os negros de Mazagão sobreviveram, pois os militares portugueses não resistiram à febre amarela”.

Em território nacional, os negros de Mazagão se miscigenaram com índios cunani. “Os negros chegaram ao Brasil mais de cem anos antes da abolição da escravatura (em 1988). Porém, atualmente, nenhum livro de história dá o devido valor a este fato”, afirma.

“Hoje, a população de Mazagão é de 12 mil pessoas e vive com muitas dificuldades. Os habitantes falam português, mas com muito marroquino, nigeriano e vocabulário indígena”.

De acordo com o professor, atualmente, a população de Mazagão conta com energia elétrica e telefone. Porém, vive praticamente isolada, pois não há asfalto até a cidade e o rio Mutuacá não é mais navegável. As pessoas vivem da caça, da pesca e da cultura de sobrevivência.

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