Como sabemos, nas décadas de 1960 a 1980 a Copel desenvolveu um extraordinário sistema de geração, transmissão e distribuição de energia, inclusive na área rural, tarefas que poderíamos talvez considerar como ímpares e inigualáveis no Brasil, em todos os tempos. Sou, com muita honra, testemunha e partícipe dessa história.
Por e para tal, a Copel desenvolveu também uma qualidade técnica e profissional de igual nível de excelência. E seus empregados realmente vestiram a camisa desse desafio e desse projeto.
Depois, o tempo passou, a política nacional mudou, a política estadual degenerou, o rumo da empresa se perdeu e se perverteu, a camisa em grande parte apodreceu e foi jogada no lixo, bem lá no fundo, entre as coisas inservíveis e sem sentido. Hoje conhecemos, de cor e salteado, muitas conseqüências dessa história. Nem todas, porém. Ainda não.
Além disso, a profundidade e a dimensão do desmonte do Brasil, do Paraná e da Copel, nas “eras” concomitantes de FHC, Jaime Lerner e Ingo Hübert, ainda demandam muita vontade política, competência e tempo para serem conhecidas. Todavia, é tão certo quanto indispensável que sejam trazidas à luz do conhecimento, de cabo a rabo, para o Paraná e para o Brasil.
Atualmente, a empresa parece transitar, ainda cambaleante, entre um passado recente de mazelas, um passado remoto de glórias e um futuro incerto. Este, do tipo “para onde vamos e como iremos”, se insere nas incertezas produzidas pelo desmonte da política energética nacional e nas fragilidades que a administração desastrosa – para dizer o mínimo -, tanto do Estado quanto da empresa, introduziram na Copel. E isso é tão inacreditável quanto verdadeiro e assustador.
É verdade que nem tudo que é desconstruído pode ser reconstituído. Entretanto, o Paraná e, por extensão, o Brasil esperam – e eu acredito – que a Copel será reconstruída após e apesar dos furacões e vendavais de desmandos e corrupções que assolaram o Estado e a empresa nesse período negro.
Para as incertezas e dúvidas do “como” e do “onde”, infelizmente eu não tenho respostas. E não sei se alguém as terá, neste momento. Todavia, com certeza, tenho a convicção a respeito do “com quem” deveremos fazer essa travessia.
O futuro da maior empresa do Paraná só poderá ser retraçado mediante a indispensável participação das forças vivas da sociedade paranaense, as mesmas que impediram a sua alienação, sob todos os pontos de vista. Também é indispensável a participação integrada, unitária, no mesmo rumo, da sua direção e do seu quadro funcional, após urgente recuperação, reconstrução e reutilização, por todos, daquela velha camisa esfarrapada, porém ainda molhada de muito suor. E de algumas lágrimas.
Luiz Carlos Correa Soares
é engenheiro aposentado da Copel. Diretor do Senge-PR – Sindicato dos Engenheiros do Paraná. Autor do livro E se o capitalismo acabasse? E-mail: lccsoares@uol.com.br