Enquanto milhares de brasileiros passam fome, toneladas de alimentos são jogadas no lixo todos os dias. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de cada 100 quilos de frutas colhidas no Brasil, 46 não são aproveitados. A quantidade é equivalente a uma perda diária de quinze toneladas de alimentos, que vão para o lixo dentro das Centrais de Abastecimento (Ceasas), e quatorze toneladas que são descartadas nos pontos de venda (supermercados, mercearias, feiras e outros).
Durante todo o processo, da colheita à comercialização de frutas e verduras, o Brasil perde o suficiente para alimentar mais de 32 milhões de pessoas, o que – conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – acabaria com a fome no País.
De acordo com o diretor comercial da empresa Central de Embalagens, de São Paulo, Claudio Pegoretti, o desperdício começa no modo como os agricultores armazenam seus produtos: geralmente em caixas de madeira, onde os alimentos ficam suscetíveis a esmagamentos, chuva e poeira. “Recentemente, a Associação Brasileira da Indústria Plástica fez um trabalho e apresentou aos ministérios da Saúde e da Agricultura caixas plásticas com medidas padronizadas para a armazenagem de frutas e verduras”, diz Claudio. “Foi constatado que essas caixas quebram menos, geram menos danos aos alimentos e podem ser higienizadas. Porém, elas ainda são pouco utilizadas.”
Outros fatores que levam ao desperdício são as condições dos veículos nos quais os alimentos são transportados e da precariedade das estradas brasileiras. Assim, muitos alimentos saem do campo em boas condições e chegam a seus destinos batidos, amassados ou mesmo completamente esmagados.
Ceasa
Com a finalidade de combater o desperdício, a Ceasa de Curitiba mantém, desde janeiro do ano passado, o programa Ceasa Amiga. O objetivo é – através da conscientização de atacadistas e agricultores – fazer a doação de frutas, legumes e verduras que não estão em condições de serem comercializados, mas ainda estão aptos para o consumo humano.
Seleção
O gerente da divisão social da Ceasa, Angelo Ronaldo Silva, explica que os produtos que não possuem valor comercial passam por um processo de seleção antes de serem doados. Atualmente, 102 entidades carentes de Curitiba e Região Metropolitana são beneficiadas. “Por mês, cerca de vinte toneladas de alimentos são doadas. Antes da existência do Ceasa Amiga, tudo isso tinha como destino final o aterro da Caximba. Muita coisa era desperdiçada”, revela.
As entidades que se beneficiam do programa apóiam a iniciativa. Um exemplo é a casa de repouso para idosos Nossa Senhora do Amparo, de São José dos Pinhais. A diretora do local, irmã Adélia Krefer, diz que os alimentos arrecadados periodicamente na Ceasa são muito bem aproveitados. “Fazemos muito bom proveito dos alimentos. Com eles, preparamos sopas e saladas de frutas”, afirma.
Nos mercados, descarte é de 7%
Nos supermercados, de acordo com a Associação Paranaense de Supermercados (Apras), o desperdício costuma ser de 1,5% a 2% do total de produtos comercializados. Porém, em alguns setores -como no de frutas, legumes e verduras – 7% dos alimentos acabam indo para o lixo.
Para evitar o problema, o superintendente da Apras, Valmor Rovaris, aconselha o uso de embalagens apropriadas, em que seja feita a rotulagem de produtos. Rovaris elogia a iniciativa de algumas grandes redes, que doam para entidades filantrópicas alimentos que estão com data de validade próxima do vencimento.