Cuidar da própria saúde, além dos pacientes, deveria ser algo natural entre os médicos. Mas muitos deles acabam deixando esse cuidado em segundo plano, por causa da agenda sempre cheia. E entre os principais problemas enfrentados por conta desse descuido está o tabagismo, que atinge em torno de 15% dos médicos paranaenses, número estimado em 3 mil profissionais e que corresponde à média nacional.
O aumento de estresse, sofrimento e preocupação que atinge os médicos ainda na faculdade é apontado como um dos principais fatores que os levam a recorrer ao cigarro. ?Esse é um hábito que permanece depois de formados e a exposição constante leva à dependência?, indica Jonatas Reichert, pneumologista e presidente da Sociedade Paranaense de Tisiologia e Doenças Torácicas.
Para Reichert, o profissional precisa passar um bom exemplo. ?Além dos riscos de doenças que podem comprometer seu trabalho, o médico é um formador de opinião.? A indicação dos conselhos, inclusive, é de que, em cada consulta, o médico alerte sobre os riscos do cigarro, mesmo que o paciente não tenha problemas diretos com o tabagismo.
Entre as especialidades médicas que apresentam maiores índices de fumantes estão a cirúrgica, a medicina intensiva e a saúde pública. ?Consciência, todos eles têm. Mas a jornada dupla – às vezes tripla – de trabalho, aliada à convivência com situações limite, leva o profissional a buscar uma fuga, muitas vezes, com o fumo?, aponta o membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Alberto José de Araújo. Profissionais ligados a problemas respiratórios e afins têm menor envolvimento com o vício, como psiquiatras (5% do total), cardiologistas (5%) e pneumologistas (4%). Porém, levantamentos mostram que o total de médicos fumantes vêm diminuindo nos últimos anos.
A dependência do cigarro, acredita Araújo, não é algo que passa com o tempo, mas que precisa de tratamento. ?O cigarro leva um tempo bem menor que qualquer outra droga para desenvolver uma crise de abstinência. O tempo máximo sem fumar varia de 30 a 40 minutos, após o qual podem aparecer sintomas como suar frio e ansiedade. Como imaginar esse problema em um médico que esteja fazendo uma cirurgia com duração de seis horas, por exemplo?, analisa.