Repletas de histórias e belezas naturais, 260 grutas e cavernas estão oficialmente cadastradas dentro do Paraná. Muitas delas, de difícil acesso a visitantes, se encontram conservadas e escondem uma biodiversidade considerada preciosa. Outras estão muito danificadas, resultado da interferência do ser humano sobre a natureza.
Segundo o presidente do Grupo de Estudos Espeleológicos do Paraná, entidade criada em 1986, e um dos responsáveis pelo livro Conservando Cavernas – 15 Anos de Espeleologia, lançado pelo próprio grupo em 2001, Luís Fernando Silva da Rocha, a destruição de cavernas e grutas no Estado remonta a várias décadas.
Algumas delas chegaram a ser completamente destruídas – sem que qualquer documentação restasse – pela extração de calcário, utilizado para a fabricação de cimento e corretivo agrícola. “Entre 40% e 50% das cavernas e grutas conhecidas estão parcialmente ou totalmente destruídas por causa da mineração, feita em diversas épocas”, comenta Luís. “Não há recuperação, pois ocorreram alterações na topografia dos terrenos.”
Outro problema que atinge as grutas e cavernas, principalmente aquelas próximas a áreas urbanas e de fácil acesso, é a visitação sem controle. Em diversos locais, os visitantes, além de quebrar as formações rochosas, são responsáveis por pichações e geração de resíduos. A ausência de políticas públicas que visem à conservação do patrimônio espeleológico no Estado torna o uso indevido e sem regras das grutas e cavernas muito problemático e preocupante. “Ainda há muito a ser feito em relação à conservação do patrimônio espeleológico paranaense. Esforços isolados têm sido realizados pela sociedade civil. No entanto, temos a necessidade de um maior comprometimento por parte do Poder Público, em especial no que diz respeito à sanção da Lei de Proteção ao Patrimônio Espeleológico (Projeto de Lei 5071- E/90)”, diz o livro Conservando Cavernas, nas páginas 14 e 15. “A criação de unidades de conservação (de domínio público ou privado) em áreas com cavernas ainda preservadas ou mesmo pouco alteradas é medida essencial para a proteção deste patrimônio.”
Na opinião de Luís Fernando, muitas formações são de grande interesse científico e importância ambiental, sem falar na representatividade histórico-cultural. Embora nem todas possam ser destinadas à visitação pública, várias delas dispõem de elementos paisagísticos que poderiam ser melhor aproveitados para o turismo e o lazer das regiões onde estão localizadas.
Parques permitem visitação controlada
Localizados na Região Metropolitana de Curitiba, dois locais que abrigam grutas foram transformados em parques, permitindo a visitação controlada e a preservação do patrimônio espeleológico. Trata-se do Parque Municipal Gruta do Bacaetava -que fica no município de Colombo – e do Parque Estadual de Campinhos – com sede em Tunas do Paraná e que abriga as grutas dos Jesuítas, das Fadas e do Abismo.
O Parque Municipal Gruta do Bacaetava é considerado o principal atrativo de Colombo, a 19 quilômetros de Curitiba. Foi criado em 2001 e é aberto à visitação pública gratuita de quarta-feira a domingo, das 8h30 às 11h30 e das 13h às 16h30. A gruta do Bacaetava, que tem 200 metros de extensão, foi descoberta há cerca de 106 anos pelos primeiros imigrantes italianos que chegaram a Colombo. Durante a II Guerra Mundial, serviu de abrigo a filhos de imigrantes que não queriam deixar suas casas e familiares para participar de combates.
Como a gruta é bastante escura, os visitantes só podem entrar na companhia de guias e com o auxílio de lanternas. Na área interna, existem formações rochosas que formam desenhos lembrando o formato do rosto de Jesus Cristo, uma mão, uma abóbora e uma caveira. Para poderem percorrer a gruta, grupos grandes de pessoas devem marcar horário antecipadamente, através do telefone (41) 656-5669.
Campinhos
Inaugurado em 1960 pelo Decreto 31.013, o Parque Estadual de Campinhos está localizado na região do Açungui, primeiro planalto paranaense, a 65 quilômetros de Curitiba. No local, encontram-se as grutas dos Jesuítas, com 1.200 metros de extensão, das Fadas, com 115 metros, e a do Abismo, de extensão inferior às outras duas.
As grutas ostentam galerias ornamentadas por espeleotemas (formações calcáreas), como estalactites, estalagmites, colunas e grandes cortinas. A mais visitada é a dos Jesuítas. Nela, os visitantes entram acompanhados por guias, portando lanternas e usando capacete. Podem entrar na gruta grupos de, no máximo, quinze pessoas a cada meia hora.
O parque conta com estrutura de lazer composta por lago, trilha e centro de visitantes e resguarda parte da vegetação original da floresta com Araucárias, além de reflorestamentos de Araucárias e Pinus. Grupos que quiserem fazer o passeio também devem marcar horário. O telefone é o (41) 213-3407. O acesso ao parque se dá pela Estrada da Ribeira. (CV)
Doutor Ulisses, terra das cavernas
As duas maiores grutas do Paraná estão localizadas no município de Doutor Ulisses, na região do Alto Ribeira. A primeira é a gruta Dá a Volta, com 2.675 metros de extensão; e a segunda é a Varzeão, com 2.087 metros.
Ambas são de acesso bastante complicado e, por isso, ainda se encontram conservadas, embora na do Varzeão possam ser encontradas algumas conseqüências da ação do homem, como quebra de algumas formações rochosas e abandono de lixo.
A terceira maior gruta é a da Lancinha, com 2.080 metros de extensão. Ela está no município de Rio Branco do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba. É considerada ainda a terceira em biodiversidade do Brasil, abrigando 75 espécies de fauna (a maioria animais invertebrados).
Cortada pelo Ribeirão da Lança – que tem alguns problemas de assoreamento – a Lancinha encontra-se a menos de cinco quilômetros da zona urbana de Rio Branco do Sul. Por isso, também é vítima de pichações, destruição de formações rochosas e abandono de resíduos.
“Historicamente, a gruta da Lancinha é uma das mais importantes do Paraná”, diz o presidente do Grupo de Estudos Espeleológicos, Luís Fernando Silva da Rocha. “Existem citações bibliográficas relativas a ela desde 1880”.
Nos últimos anos, a gruta tem atraído menos visitantes, devido a uma série de assaltos registrados no caminho que leva à formação. (CV)