O Paraná começa a produzir uvas sem sementes em Marialva, Norte do estado. Com polpa crocante e elevada doçura, as três variedades de uvas vão ser disseminadas, já nos próximos anos, nos diversos municípios da região, tradicionais na produção da uva fina de mesa. Considerada conquista histórica, a classe agronômica vê incremento significativo na produção de uva de qualidade, aumento de área cultivada, além da ampliação de oportunidade de renda e ocupação no meio rural.
O cultivo da uva sem semente foi possível no Paraná graças à integração da Embrapa Uva e Vinho, Associação Norte Paranaense em Estudos de Fruticultura/ANPEF, Emater ? empresa estadual vinculada à Seab – e demais entidades ligadas à cadeia produtiva da uva fina de mesa.
A apresentação dos primeiros cachos de oito materiais de seleção varietal sem transgenia, dentre eles as três variedades potenciais denominadas BRS Clara e BRS Linda (uvas brancas) e BRS Morena (uvas tintas), destinadas ao consumo in natura, foi em grande estilo. Ocorreu durante a programação do Início da Colheita de Uvas Finas do Paraná, na última segunda-feira, com mais de 500 participantes presentes na solenidade oficial do Lançamento Regional das Uvas Sem Sementes na Associação Cultural Esportiva Marialvense, em Marialva.
Agenda técnica começou na tarde de campo para 100 convidados, integrando técnicos e lideranças, no Sítio Vale das Uvas, de 70 hectares, da família de Marino Oizumi, na Gleba Ribeirão Aquidabam. Esta propriedade foi escolhida para ser unidade de observação depois de longa e intensa procura da equipe de pesquisa da Embrapa, que definiu um rigoroso perfil agronômico onde pudesse instalar com sucesso no Paraná o primeiro experimento técnico-científico. Ela tem 10 hectares de uva finas de mesa das variedades Itália, Rubi e Benitaka cultivadas com técnicas de ponta e domínio tecnológico na produção vitícola por mais de 20 anos, além de contar com assistência integral de um agrônomo, o próprio Marino. O experimento apresentado é constituído de 240 plantas, com porta enxerto (cavalo) cultivado em 2002 e copa enxertada em 2003.
A viabilidade da produção dessas variedades sem sementes no Paraná é garantida por Umberto Almeida Camargo, pesquisador em melhoramento genético da Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves (RS), líder da equipe que, em apenas sete anos dos convencionais 13 anos, formou e conseguiu lançá-las nacionalmente ano passado em Jales (SP). "Aqui as condições de clima e solo são favoráveis, embora as variedades necessitem de ajustes nos tratos culturais do início até a colheita, logística na colocação da produção, definição do padrão de qualidade e também melhoria nos procedimentos de pós-colheita" afirma Camargo.
Dentre as vantagens, o pesquisador destaca que são materiais de ciclo precoce, proporcionam redução dos custos de produção porque dispensam desbaste com tesoura e raleação com pente e, principalmente, acompanham a tendência mundial do consumo de frutas sem sementes, onde o mercado está pagando em média 1 a 1,2 dólar o quilo. "Mas no Vale do São Francisco, que importou variedades da Califórnia (EUA), são 2.000 hectares em produção e a janela de comercialização de meados de abril até início de junho está permitindo a venda ao preço de 3 a 5 dólares, pela total falta de concorrência mundial".
O Paraná cultiva 6 mil hectares, sendo a metade de uva fina de mesa e a outra com variedades rústicas. Marialva mantém, há 15 anos, o título de capital paranaense da uva fina de mesa. Atualmente são 750 viticultores cultivando 1.550 hectares e produzindo a média de 30 mil kg/hectare/ano. Deste total somente 20 produtores cultivam 100 hectares de uvas rústicas.
Entusiasmado pelas perspectivas da entrada das uvas sem sementes no município, o extensionista Sérgio Luiz Zafalon, da Emater, quantifica a transformação que a viticultura fez em Marialva, afirmando que houve significativo crescimento demográfico e que dos 28 mil habitantes 1/3 vive direta e indiretamente da uva. Compara o desempenho econômico dos 26 mil hectares de lavouras de grãos que se iguala com a atividade vitícola local.
O melhor de tudo, considera Zafalon, "é que queremos duplicar a área de produção por novos plantios e renovação de videiras com a uva sem sementes e assim dar mais 4 empregos em cada hectare, sem perda da atual área ocupada pela uva fina de mesa, levando este novo produto de Marialva direto para o mercado consumidor internacional, isto em um prazo máximo de cinco anos."