Paraná contesta a identificação de aftosa no Estado

O governo do Paraná recusa-se a aceitar a declaração do Ministério da Agricultura de que existe um foco de febre aftosa em São Sebastião da Amoreira, a 380 quilômetros de Curitiba, no norte do Estado. "Nós vamos, pela via diplomática, administrativa e até jurídica, contestar a forma como o ministério estabeleceu esse foco no Paraná", disse o secretário da Agricultura, Orlando Pessuti. "Achamos que foi uma decisão precipitada, baseando-se apenas em laudos de sorologia e vinculação com a origem."

O assunto foi discutido hoje (6) na reunião do Conselho Estadual de Sanidade Animal (Conesa), que congrega 35 entidades. "Nós sempre dissemos e o próprio ministério sempre argumentou que a sorologia por si só não é suficiente para dizer se o animal tem febre aftosa ou não", disse. "No nosso caso estão aliando a sorologia com a origem dos animais, vindos da Fazenda Bonanza, de Mato Grosso do Sul, o que teria estabelecido a circulação do vírus", acrescentou.

Mas, segundo Pessuti, a circulação não está comprovada porque nenhum outro animal, mesmo os mais suscetíveis de contrair aftosa, como suínos e caprinos, apresentou a doença. E os exames concluídos também não o demonstraram. "Mandamos 988 amostras de materiais e nenhum dos resultados que nos foram dados até segunda-feira propiciou o isolamento e a identificação do vírus" ressaltou. "Há necessidade de prosseguir na investigação laboratorial para poder identificar se há ou não a presença do vírus e da doença."

De acordo com o secretário, não há nenhum fato novo desde o dia 21 de outubro quando foi anunciada a suspeita de aftosa no Estado. "Tínhamos os sinais clínicos, a origem e a sorologia de alguns animais que reagiu positivamente", explicou. "É o que permanece hoje." Além disso, ressaltou, que todos os exames Probang (que detectam o vírus) deram negativos. "Reafirmo que o Paraná continua na condição de Estado com suspeita de aftosa em algumas propriedades."

Sem a comprovação do vírus, o governo não quer nem falar em sacrifício ou abate dos animais. No caso de sacrifício de todos os animais da propriedade, o saneamento dura seis meses; se for feito o abate dos contaminados, com aproveitamento da carne, a exportação somente será retomada em 18 meses. A proposta por um ou outro caminho, caso necessária, deve ser apresentada pelo governo ao Conesa, mas a questão já divide pecuaristas e representantes da indústria da carne.

O presidente do Sindicato da Indústria da Carne, Péricles Salazar, disse que não irá propor o sacrifício de animais, mas que gostaria de uma decisão rápida e que o defenderá caso seja colocado em votação. "O secretário tem que defender politicamente o Estado, até porque há inconsistências técnicas, mas outra coisa é o factual", afirmou. "Nós, do setor privado, estamos pagando o preço pelas indefinições." Ele calcula que o setor já perdeu cerca de R$ 120 milhões. "Se continuarmos discutindo política, técnica e judicialmente, o setor privado continuará pagando o preço e não queremos isso."

Babando de raiva

O presidente da Sociedade Rural do Paraná, Edson Neme Ruiz, é totalmente contrário a que se fale disso no momento. "Primeiro precisamos de comprovação real da presença da doença nos animais e, segundo, em qualquer situação, seja positivo ou negativo, não pode sacrificar as provas, pois elas justificam qualquer atuação futura", ponderou.

Segundo ele, "alguns setores estão olhando só para aquela parte da cadeia do agronegócio, mas esquecem que só existe agronegócio porque existe o agropecuarista."

Ruiz também lamentou a decisão do Ministério da Agricultura. Segundo ele, foram feitas 11 vistorias na Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira, e na inspeção visual não foi observado nenhum sintoma sugestivo de doença vesicular. "Temos que lutar com todas as forças e armas necessárias para exigir o respeito que o Paraná merece", disse. "Nós é que estamos tomando vacina de aftosa porque estamos babando de raiva." Ele também disse duvidar que na reunião de amanhã (8) a União Européia decida não comprar carne do Brasil. "Não tem quem forneça com quantidade, qualidade e melhor preço", argumentou.

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