Uma mulher com 63 anos e um homem com 51 anos com o mesmo problema de coração começam hoje (5) a transformar suas rotinas de falta de ar, cansaço e medo de morrer em esperança de cura. Eles possuem o coração dilatado, ou coração de boi, como é popularmente conhecida a miocardiopatia dilatada. Mas ambos fazem parte de um grupo de 1.200 brasileiros que serão os primeiros a testar um tratamento novo com células-tronco.
O novo tratamento para doenças do coração é na verdade a última etapa do maior estudo com células-tronco adultas para o tratamento de doenças graves do coração já realizado no mundo. Os primeiros testes tiveram início no dia 10 de junho, no Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. A partir desta terça-feira (5), os dois pacientes paranaenses farão o procedimento. No total, o estudo vai envolver 33 instituições em nove estados e no Distrito Federal.
O médico da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba e também professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Paulo Brofman acredita que a nova técnica terá uma repercussão social muito significativa já que poderá melhorar a vida de cerca de quatro milhões de pessoas que, segundo o Ministério da Saúde, sofrem de insuficiência cardíaca grave no Brasil. Nesses casos, o coração perde a capacidade de bombear o sangue para o corpo.
"O músculo cardíaco quando sofre uma lesão como infarto do miocárdio ou processo inflamatório, ele perde esta função bomba por morte das células musculares do coração, não existe capacidade de regeneração. Conseqüentemente o coração perde a sua função de bomba". Quando isso ocorre, o paciente passa a sofrer de insuficiência cardíaca, que é caracterizada por intensa falta de ar, cansaço e inchaço nas pernas.
As células-tronco adultas utilizadas no tratamento são fontes de pesquisas em laboratórios de vários países. Elas têm alta capacidade de se auto-renovar e originar células com diferentes funções. Por isso, podem recompor tecidos danificados e ajudar a tratar diversas doenças como o mal de Parkinson, o diabetes e as doenças musculares degenerativas.
Brofman afirma que o procedimento de substituição das células danificadas por células-tronco é relativamente simples, não exige sequer uma cirurgia. "As células são colhidas do próprio paciente, ou seja, não existe o problema da doação, e elas são injetadas no coração através de cateteres introduzidas por uma artéria situada na perna do paciente".
A retirada das células-tronco é feita por meio de uma punção no osso do quadril, de onde são retirados 100 mililitros de sangue. Depois o material é enviado para um laboratório especializado, onde as células são separadas e preparadas para serem injetadas nas artérias do coração. O procedimento todo tem duração cerca de quatro horas e os pacientes recebem alta em 48 horas. Segundo o doutor Paulo Brofman, os primeiros sinais de recuperação começam a ser detectados por volta da terceira semana após a injeção das células.