O vice-governador do Paraná, Orlando Pessuti, foi profético: ?… este evento não poderia ter feito melhor escolha para a palestra magna?. Efetivamente, Franke Dijkstra roubou a cena em Valores do homem e da terra, abertura para o 4.º Propriedade Intelectual como Fator de Inteligência Competitiva (Pific) – organizado pela Agência Paranaense de Propriedade Industrial (Appi)/Tecpar. Foram dois dias e meio de intensa atividade, em que o estômago dos participantes somente se impôs em brevíssimos intervalos, dado o qualificado processo de discussão que se seguiu às duas dezenas de palestras proferidas em regime de desafio aos debatedores especialistas e platéia vibrantemente co-participante.
Inteligência competitiva porque na globalização em curso, competir, inovar, proteger, se impor pela competência e competividade é o catecismo atual dos negócios bem-sucedidos. Inteligente é observar, comparar, superar e visibilizar-se ante a heterogênea platéia consumidora. Há dois caminhos distintos que igualmente podem ser casados: inventar e inovar em regime contínuo de modo a enxergar a concorrência sempre com um girar de pescoço ou testar, comprovar e buscar os registros públicos (patente de invenção PI, modelo de utilidade UM, desenho industrial DI e marca M) e sobretudo ?praticar? industrialmente o que está legal e nacional ou internacionalmente protegido graças ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).
Em inovação, patenteamento e sucesso comercial o céu e o mar são os limites mas voltemos à terra. Foi, é e será lá que F. Dijkstra, um holandês de berço mas paranaense de adoção há muitas décadas, se consagrou como o ?herói do plantio direto sob a palha?, tema pelo qual, inspirado no trabalho precursor do Iapar desde 1972, apaixonou-se a partir de 1976. Sua própria terra, a Fazenda FrankAnna de Carambeí, município dos Campos Gerais (além da Cooperativa Batavo que também presidiu), saltou das razoáveis 2,60 toneladas (t) de soja e 6,35 t de milho/hectare (ha) de 1986, para as (quase) incríveis e respectivas 3,46 e 9,65 t/ha na safra agrícola de 2006/2007. Um milharal modelo de Kansas, nos Estados Unidos, está de bom tamanho em 8 a 8,5 t/ha. O trigo da família Dijkstra – tão necessário ao pão nosso de cada dia – tem rendido 2,7 a 3,7 t/ha, isto ainda sem uma grama de agrotóxico no solo.
Solução
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Dijkstra: ?herói do plantio?. |
A (profunda) ciência por detrás de tal feito está na saudável administração do que se retira do ar (C e N – carbono como CO2 fixado como carboidrato pela mágica fotossíntesse e nitrogênio, não menos magicamente, pela fixação biológica por parte das bactérias). Uma pitada adicional de fósforo P convenientemente solubilizável pelas micorrizas, química e abençoadamente ?arrasta? consigo o magnésio Mg, coração verde da clorofila.
O que Frank e parceiros devolvem ao solo – alternativamente à queimada desinteligente que só lança mais CO2 e carvão microparticulado nos ares – é maiormente o complexo lignina(hemi)celulose facilmente biodegradáveis pela macroheterogênea flora do solo. Estes polissacarídios são eficientes retentores, ademais, da água seja da neblina ou da chuva mais intensa. Enzimaticamente reprocessados, devolvem carbono em forma inteligente ao solo e seus ?benéficos hóspedes?: bactérias, leveduras e fungos…minhocas!
Dois parâmetros co-atestam a eficácia do método de plantio na/sob a palhada de safra anterior: cada litro de combustível (se biodiesel, melhor, mas igual serve o óleo cru filtrado por 1 micron como atestou o ?tataraneto afetivo de Rudolf Diesel?, Gernold Schartner na Cooperativa Witmarsun, Palmeira, região central do Estado), permite colher, num terreno a plantio direto, mais de 100 kg de grãos, o que se reduz à metade na variante convencional de plantio com o pouco razoável revolvimento do solo com gradão. O mesmo se deduz do que deriva, em termos de colheita, da aplicação de 1 g do terno fertilizante N-P-K e da aplicação de 1 kg de palhadas: respectivamente 15 e 26 kg de grãos!
Outras presenças
Impossível deixar de injustiçar a maior parte dos qualificados palestrantes do 4.º Pific por absoluta falta de espaço, mas marcaram presença indelével os ?feixes neuroniais eletro-eletrônicos? da Kabel, o que combinado ao sistema GPS permite pilotar à distância colheitadeiras agrícolas de macroporte; a habilidade comercial da Nutrimental, convertendo a qualidade da Nutry em sinônimo de barra alimentícia polifuncional; o duo de competência na engenharia químico-mecânica de montagem de pequenas plantas industriais para biodiesel apresentado pela AustenBio de Londrina e Lumabio (Unicentro) de Guarapuava, ao mesmo tempo que o Tecpar, Seab e Iapar ilustraram suas respectivas competências no programa ParanaBioEnergia.
A contribuição informativa de agências financiadoras e de produção/pesquisa (Finep, BB; Embrapa, Codetec/Ocepar; Mdic, Petrobras) também se materializou. Impressionou sobremaneira a fluidez, respaldo cultural e grau de convincência dos palestrantes enviados pelo Inpi do Rio de Janeiro (Rita, Suster, Todorov e Dubin), além da primorosa aula de negócios da ?businesswoman? S. Hanszmann.
O Estado do Paraná, por conta de sua formidável mescla etno-cultural, é nativamente inteligente. Ideal que dispare, por conta do mesmo substrato, na competitividade. Quem não pode ser o maior (PR: apenas 2% do território nacional e 6% da população!) pode e deve competir para ser o melhor.
José Domingos Fontana (jfontana@ufpr.br) é professor emérito da UFPR (2005), prêmio paranaense de C&T (1996) e pesquisador 1ª do CNPq (1996-2006).
