Paradigma de político honesto

Está fazendo um ano do falecimento, aos 77, do ex-Senador Amaury de Oliveira e Silva, figura admirável da política paranaense, em cujo exercício notabilizou-se como tribuno de excepcionais recursos oratórios e pela fidelidade aos seus ideais e aos princípios inquebrantáveis da ética.

Advogado militante em Londrina, professor assistente da Faculdade de Direito da Universidade do Paraná, Amaury elegeu-se deputado estadual em 1954 pelo tradicional Partido Republicano, cuja liderança máxima no Paraná era o ex-governador Bento Munhoz da Rocha Neto.

Na verdade, o Amaury trazia dentro de si o ideal do trabalhismo, pregado pelo teórico gaúcho Alberto Pasqualini, tendo como símbolo Getúlio Vargas. Assim, ele aceitou convite do então presidente do PTB do Paraná, Abilon de Souza Naves, e ingressou no Partido, elegendo-se em 1958 deputado estadual pela legenda trabalhista.

Amaury foi escolhido líder da bancada do PTB e cumpriu destacada atuação parlamentar, com realce à sua intrépida participação na chamada “Campanha da Legalidade”, depois da renúncia do Presidente Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961 e o veto à posse do Vice-Presidente João Goulart pelos ministros militares Odilio Denis, da Guerra; Grumm Moss, da Aeronáutica; e Silvio Heck, da Marinha.

O governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, comandou do Palácio Piratini a resistência democrática, que teve ressonância no Paraná com os discursos eloquentes do Amaury, que influíram decisivamente na posição da Assembléia Legislativa contra o golpe às instituições. Como é sabido, João Goulart assumiu o poder no Dia da Independência, 7 de setembro de 1960, ainda que sob o regime parlamentarista articulado por Tancredo de Almeida Neves, que veio a ser indicado 1º Ministro.

Em 3 de outubro de 1962, Amaury de Oliveira e Silva foi eleito Senador mais votado do Paraná, pelo PTB, suplantando Adolpho de Oliveira Franco, UDN, que também se vitoriou na coligação PTB-UDN (eram duas vagas), ambos apoiados pelo governador Ney Braga.

Foram derrotados nesse memorável pleito os ex-governadores Bento Munhoz da Rocha Neto (PR) e Moisés Lupion (PSD):

Eleição para Senador em 03.10.1962

Amaury de Oliveira e Silva (PTB)

390.057 votos

Adolpho de Oliveira Franco (UDN)

326.837 votos

Bento Munhoz da Rocha Neto (PR)

224.959 votos

Moisés Lupion (PSD)

217.627 votos

Sebastião Vieira Lins (PSB)

63.252 votos

Fonte: TRE

Amaury ficou pouco no Senado, pois foi nomeado pelo presidente João Goulart Ministro do Trabalho, em 1963, e seu nome passou a ser cogitado para candidato a governador na sucessão de 1965, como já o fôra em 1960, em seguida à morte de Souza Naves, ocasião em que desistiu para assegurar a unidade do partido, apoiando o Senador Nelson Maculan (suplente de Souza Naves), que perdeu para Ney Braga (PDC).

O Brasil vivia momentos de exacerbação das reivindicações sociais, sucedendo-se greves de trabalhadores, algumas de caráter meramente político, que Amaury procurou resolver com a paciência e habilidade de sua personalidade conciliatória.

A crise política agravou-se, resultando na deposição do Presidente João Goulart em 31 de março de 1964. Amaury reassumiu em Brasília o Senado Federal, mas o regime militar cassou seu mandato e suspendeu seus direitos políticos por 10 anos. Ele asilou-se na Embaixada da Iugoslávia, em Brasília, contudo preferiu sair, deslocando-se para fazenda de um amigo, onde um pequeno avião o esperava para levá-lo a Montevidéu, Uruguai, a fim de juntar-se a João Goulart, Leonel Brizola e Darci Ribeiro, que lá estavam exilados.

O ex-Ministro do Trabalho não deixou no Brasil propriedade alguma, pois morava em casa alugada. Ele hospedava-se em hotel, no Rio de Janeiro, onde passava longos períodos, uma vez que ali ocorriam muitos movimentos grevistas. Amaury não permitia que o Ministério pagasse suas despesas de hotel, que ele honrava com dinheiro do próprio bolso. Com a súbita saída do Ministério e a cassação, remanesceram dívidas que Amaury mandou quitar com a entrega de seu automóvel e único bem material.

Ao retornar do exílio no Uruguai, Amaury retomou a atividade de advogado e filiou-se ao PMDB, sem disputar cargos de direção ou eletivos, e em 1983 foi nomeado pelo governador José Richa Auditor do Tribunal de Contas do Estado, função que exerceu até aposentar-se.

Amaury de Oliveira e Silva legou aos seus filhos, amigos e companheiros de luta os exemplos de uma vida política digna, exercida com idealismo e honestidade.

Léo de Almeida Neves

é ex-deputado federal, ex-diretor do Banco do Brasil e autor dos livros Destino do Brasil: Potência Mundial e Vivência de Fatos Históricos.

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