Djalma Filho
Viver não é fácil. Você já deve ter notado isso, apesar de ter acabado de completar apenas dezesseis anos. Aliás, ter dezesseis anos também não é fácil, pois é quando começamos a ter contato com a vida real e isso dá medo.
Sabe, quando eu tinha a sua idade as coisas também não eram fáceis pra mim. Eu tinha o rosto cheio de espinhas e as mãos, cheias de verrugas. E vivia um parodoxo: queria ser cantor e conquistar o mundo, porém não me achava bom o suficiente para conquistar sequer uma namorada. Então eu me refugiava no mundo dos sonhos. Lá eu era forte, confiante e, principalmente, admirado. Na verdade eu queria ser amado pelo mundo inteiro para aprender a gostar de mim mesmo. Apenas mais tarde percebi que não precisava ser famoso para ganhar o amor próprio. Comecei viver a minha vida quando deixei de querer viver a vida dos outros.
Eu posso falar sobre o medo. Sempre fui muito medroso. Tinha medo de ladrão, de fantasma, de espírito, de escuro. De alguns medos, eu me livrei, de outros não, como o medo da morte. Esse ano, por exemplo, tive muito medo de perder o meu filho menor quando ele ficou internado no hospital com pneumonia. Tive tanto medo que me tranquei no quarto para dormir sozinho em casa, já que o outro filho estava com a vó, e minha mulher, no hospital. Pode uma coisa dessas? Aos trinta e seis anos eu me tranquei no quarto! Sabe por quê? Por desamparo emocional. A grande maioria dos nossos medos são fruto do nosso inesgotável desamparo emocional. Sentimo-nos muito frágeis diante da inconstância e da vulnerabilidade da vida. Por isso, sucumbimos diante de vários medos, sejam eles reais ou ilusórios.
Você poderia perguntar-me: como vencer o medo? Sinceramente, não sei. O que eu posso lhe dizer é que, com o tempo e boa vontade, você acaba identificando a raiz dos seus temores. É verdade que sempre haverá pessoas dizendo que venceram o medo através de receitas prontas. Não lhes dê ouvidos porque são tolas. Falam muito porque têm medo até do próprio silêncio.
Por isso não tenha medo de sentir medo. Entretanto, lembre que corajoso não é quem não sente medo, mas quem conhece seus medos e tem a coragem de enfrentá-los.
Djalma Filho é advogado
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