Rio (AE) – O presidente do Senado, Renan Calheiros, disse hoje (26) que o que ele chama de "guerra de vaidades" pode prejudicar os trabalhos das comissões parlamentares mistas de inquérito em curso no Congresso e evitar a punição de culpados. "Estou muito preocupado com os resultados e temo que a guerra de vaidades acabe dificultando a investigação", disse o senador, que queixou-se de sobreposição e redundância nos procedimentos adotados nas CPIs. "Não tem nenhum sentido convocar uma mesma pessoa para depor em três comissões diferentes. Os holofotes não podem prejudicar, porque o Brasil não quer outra coisa senão o resultado: os esclarecimentos, a investigação e a punição".
Calheiros informou que vai se reunir na manhã de terça-feira com os presidentes e relatores das CPIs dos Correios do Mensalão e dos Bingos na tentativa de agilizar os procedimentos e antecipar a conclusão dos trabalhos, mas não arriscou prazos. O senador afirmou que poderá convocar ainda os líderes dos partidos para a conversa e lembrou que não foi atendido há um mês, quando fez o mesmo pedido aos presidentes das comissões. "Vou fazer tudo para acabar com essa guerra de egos. Tenho receio que fogueira das vaidades acabe chamuscando a investigação", disse Calheiros ao chegar ao lançamento da Frente Brasil Sem Armas na sede da Associação Brasileira de Impensa, no Rio.
Para o presidente do Senado, é preciso dar foco a cada uma das CPIs e evitar desperdício de tempo como a convocação de um mesmo depoente por mais de uma comissão. Ele também quer que os integrantes compartilhem bancos de dados. Ele afirmou que o Congresso precisa responder às cobranças da sociedade. "A única maneira de o Congresso recuperar o respeito e a credibilidade é pela eficácia, pelo esclarecimento", disse o senador. "O Brasil não vai perdoar se nós não apresentarmos logo os resultados e não punirmos as pessoas que precisam ser punidas".
O presidente do Senado admitiu que foi um erro envolver os senadores numa investigação que, para ele, deveria ficar restrita à Câmara. Afinal, caberá ao Conselho de Ética daquela Casa a cassação dos mandatos dos deputados envolvidos. Ele disse que o calendário de votações no Congresso está sendo prejudicado e defendeu prioridade para matérias como as reformas política e tributária e o pacote de combate à lavagem de dinheiro.
Calheiros classificou as pesquisas que demonstram queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como "uma oportunidade para corrigir rumos, contornar dificuldades, refazer relacionamentos". Para Calheiros, o presidente demontra estar consciente disso. Ele evitou comentar as críticas recentes do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a Lula, mas afirmou que o presidente deve deixar para depois a decisão de concorrer ou não à reeleição.
"O problema maior dessa crise é a impresivibilidade dela. Ela fez mal ao país ao antecipar o debate sobre a sucessão. A melhor coisa que o presidente tem de fazer agora é governar. É tocar o governo para frente e deixar essa questão política mais eleitoral para ser resolvida no próximo ano", opinou.
Calheiros afirmou que o PMDB está unido em torno da candidatura própria à Presidência, mas não manifestou apoio direto à candidatura do ex-governador do Rio Anthony Garotinho. "Temos outros nomes, outras alternativas. O importante é manter a unidade do partido, aproximar as correntes, e escolher na hora certa aquele que melhor credenciará o partido com relação à candidatura".