O promotor de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de São Paulo, Roberto Porto, disse ontem que a facção criminosa conhecida como Primeiro Comando da Capital (PCC) está "estrategicamente quieta", depois dos ataques violentos que efetuou no mês de maio em São Paulo. "Estão tentando mudar a cara dessa facção, dar contornos políticos", afirmou. "Para essa finalidade, os atentados que eram praticados é uma péssima estratégia." Entre as atividades da nova ofensiva está a panfletagem nas ruas de São Paulo.

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Porto esteve em Curitiba participando do seminário "Crime Organizado: uma reflexão necessária", promovido pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais e de Execução Penal. "Não dá para se fazer combate efetivo ao crime organizado sem a troca de informações, pois o crime passa pelos diversos Estados" disse Porto. Segundo ele, no caso do PCC, a facção deixou de ser um problema exclusivo de São Paulo. "Hoje, o Paraná é o braço direito do PCC, que já está instalado em quase todos os Estados da Federação", ressaltou.

Pela proximidade com São Paulo e pelo fato de várias lideranças da facção terem passado pelas penitenciárias paranaenses, ele acentuou que as sementes frutificaram e os contatos são freqüentes. "Temos levantamento de ondas de ataques que seriam praticados aqui no Estado e foram coibidos em virtude da ação da polícia e do Ministério Público do Paraná, mas, através dessa troca de informações, não há dúvida de que entre todos os Estados da Federação, hoje o Paraná é o que mais está atrelado ao PCC de São Paulo", garantiu.

Para Porto, as soluções para que o combate ao crime organizado seja mais eficaz só podem vir a médio e longo prazos. "Passa necessariamente pela construção de pelo menos 130 estabelecimentos prisionais", disse. Outra medida necessária, segundo ele, é a reestruturação da carreira de agente penitenciário. "É uma carreira que foi deteriorada, corrompida", analisou.

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Também palestrante no encontro, o procurador regional da República no Distrito Federal Guilherme Schelb ressaltou que o PCC é a "parte visível" do crime organizado. Segundo ele, tão grave quanto isso são as fraudes em licitações públicas. "Desviam bilhões de reais anualmente seja na área federal, Estados e municípios", afirmou. Para ele, o crime organizado e a corrupção não se dissociam. "Só há crime organizado porque há corrupção em órgão público. Sem isso o crime organizado não teria qualquer eficácia além do crime normal que existe nas ruas e deve ser combatido", disse.