O advogado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) Adelar Cupsinski chama de "farsa" os dois últimos julgamentos dos oficiais e soldados envolvidos na morte de 19 sem-terra, em 1996, em Eldorado dos Carajás, no Pará. Em 1999, o julgamento foi anulado pelo Tribunal de Justiça. Em 2002 os 154 policiais envolvidos foram absolvidos e apenas os dois mandantes condenados.
"Na ocasião, várias denúncias foram feitas afirmando que as testemunhas estavam sendo ameaçadas de morte e, mesmo assim, nada foi feito nesse sentido." Cupsinski entende que fatos importantes também foram deixados de lado durante os julgamentos de 1999 e 2002. Um deles é que os policiais se dirigiram à estrada interditada pelo MST sem identificação nos uniformes.
Outro detalhe: os corpos dos sem-terra foram retirados do lugar do crime pelos próprios assassinos. "Além disso, as armas dos policiais não foram identificadas, como determina o procedimento legal. "O primeiro legista a fazer o laudo cadavérico, Badan Palhares, não constatou sinais de massacre, o que posteriormente foi comprovado por laudo elaborado por outro perito", observa o advogado.
Pressão
A presença maciça de integrantes do MST na praça Felipe Patroni, onde fica o Palácio da Justiça e está sendo feito o julgamento, é a demonstração de que a sociedade está vigilante quanto ao trabalho da Justiça, disse o coordenador do MST, Charles Trocate. "Denunciamos a impunidade construída a partir do Poder Judiciário. Exigimos Justiça no caso de Eldorado dos Carajás e queremos que o Estado seja punido por não fazer a reforma agrária".
O coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Pará, Jax Pinto, disse que os números da impunidade conspiram contra os trabalhadores rurais. E lembra que no Pará, nos últimos dez anos, foram cometidos 142 assassinatos de lavradores período em que 650 trabalhadores foram presos. Hoje 29 mandantes de crimes de encomenda e pistoleiros estão foragidos.