São Paulo (AE) – O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que o relatório apresentado hoje (31) pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre as políticas agrícolas nacionais evidencia as vantagens do Brasil em relação aos demais países agrícolas, pois é competitivo, sem depender de fortes subsídios agrícolas. "Se não fossem erros de governos anteriores, não existiriam o Pesa (Programa Especial de Saneamento de Ativos) e a securitização, e os subsídios à agricultura no Brasil seriam muito menores", disse o ministro, em entrevista após o seminário "A Política Agrícola Brasileira no Contexto Internacional", realizado em São Paulo.
Para o presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), Marcos Jank, o relatório da OCDE dá ao Brasil "o passaporte para reivindicar a liberalização do comércio mundial". O estudo mostra que os subsídios à agricultura no Brasil representam 3% do valor da produção, enquanto nos 30 países que formam a OCDE esse percentual é de 30%. "Não fosse a taxa (básica de juros) Selic indecente, os subsídios aqui seriam quase zero", reforça o analista, sobre o fato de o crédito rural adotar taxas mais baixas para o produtor.
De acordo com o diretor da OCDE para Alimentação, Agricultura e Pesca, Stefan Tangermann, ao contrário da maioria dos países da organização, no Brasil "as distorções entre os preços internos e o mercado internacional são muito limitadas", caso da soja, que desde a década de 90 tem seu preço atrelado ao mercado mundial, e da carne bovina, cujos preços nos últimos anos se aproximaram da paridade com o produto importado. "O que não é uma surpresa, sendo o Brasil um grande produtor de soja e exportador de carne", diz Tangermann.
Para ele, o Brasil tem condições de ganhar ainda mais competitividade se investir em infra-estrutura e não descuidar das questões ambientais e sociais, hoje motivo de críticas de alguns parceiros comerciais. "É comum se ouvir lá fora: como eles conseguem ser competitivos? Será é que porque exploram os pobres e descuidam do meio ambiente". De acordo com Tangermann, o relatório apresentado hoje serve para responder a essas questões, mas ele reconheceu que o lobby ambiental é muito forte e as queixas contra o Brasil não devem ser retiradas no curto prazo. "Mas o diálogo vai mudar", previu.
Para o ministro Rodrigues, a agricultura brasileira tem um papel a jogar, com uma lição de casa permanente, que é a questão sanitária. Quanto ao governo, admitiu a necessidade de investimentos em infra-estrutura, armazenagem e biotecnologia. "Há ainda muita coisa a ser feita, como o apoio à comercialização e à pesquisa, que não significam subsídios", disse.
O ministro voltou a dizer que a globalização da economia produziu uma riqueza que ainda não foi distribuída. "A abertura comercial é o caminho mais ágil para que isso aconteça", diz. Ele diz que a reunião da Organização Mundial de Comércio (OMC) de Hong Kong precisa ter "resultados concretos". "Senão vamos ter anos de anos de iniqüidade". E, acrescentou, o crescimento desigual "é uma ameaça à democracia e a paz mundial"
Rodrigues se disse esperançoso de que as articulações do G-20 tenham sucesso. "A oferta dos Estados Unidos (de corte nos subsídios) foi bastante liberal. Já a União Européia foi muito conservadora. A proposta do G-20 deve ficar entre as duas e ser mais aceitável."