A ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria da Igualdade Racial, disse nesta sexta-feira (27), em Ribeirão Preto, que foi importante a declaração do ministro da Saúde, Agenor Álvares, que admitiu a existência de racismo no atendimento a negros no Sistema Único de Saúde (SUS). "Acho importante que tenha um ministro, de uma área tão estratégica, para inclusão e igualdade, que admite que o racismo é real e se aplica em todas as áreas da política pública", comentou ela. "Cabe a governos identificar essa realidade e combatê-la", emendou Matilde, antes de participar de uma discussão sobre o papel dos municípios na promoção da igualdade racial.
Para a ministra, a declaração de Álvares, no entanto, não é uma novidade. "Não somos nós que estamos criando, a situação brasileira tem um marco muito profundo, que foram quatro séculos de escravidão", destacou ela. "Vivemos há menos de 120 anos da abolição e ainda hoje temos uma realidade de discriminação, falta de acesso e pouca preocupação dos governos e do Estado ao longo da história com essa questão." Matilde disse que se sente feliz pela declaração de Álvares, que, segundo ela, "pode ser um agente de transformação dessa situação".
Matilde salientou que acredita no resultado do trabalho da Secretaria de Igualdade Racial. "E reafirmo: nosso interesse não é gerar racismo, que já existe e está sendo apenas identificado, para a sua superação e a inclusão da população negra em todas as áreas da política pública, economia, vida social e política do País, como cidadão de direito, que paga impostos, participa da constituição da nação e tem direito como qualquer outro grupo racial", comentou a ministra.
Matilde Ribeiro esteve em Ribeirão Preto para defender o reforço às políticas públicas da cidade na questão racial, criando mais vínculos entre os governos municipal e federal. Ela enfatizou que existem algumas demandas históricas na área de saúde em relação à população negra, como a identificação e o tratamento da anemia falciforme por meio do exame do pezinho. Miomas prevalecentes em mulheres negras também necessitam de tratamento. "A população negra não é doente, mas a sua condição de vida leva ao agravamento da saúde, e se isso não for combatido vira uma doença que não é biológica de origem", afirmou Matilde. "A questão social interfere e muito na condição de saúde e doença da população negra.
A ministra Matilde ainda citou que os serviços públicos de saúde devem conter, nos formulários, um quesito para identificar a cor da pessoa. "Não é para gerar discriminação, mas dados pra que, a partir da quantificação da população branca, negra e indígena, possamos saber porque se adoece e morre, e assim prevenir as doenças", disse ela.