Para Lula, é preciso mudar geografia do poder

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu hoje a reunião de Cúpula América do Sul-Países Árabes com um discurso morno, que não foi aplaudido pelo presidente da Argentina, Néstor Kirchner. Lula defendeu a necessidade de mudança na geografia do poder mundial e a eqüidade de um sistema multilateral de comércio, livre de subsídios impostos pelos países ricos.

Depois de avisar que é preciso que os países "se afirmem perante uma ordem econômica resistente à transformação e aos interesses legítimos dos países em desenvolvimento", Lula encerrou a surpreendentemente rápida fala, de sete minutos, dizendo: "Vencemos o ceticismo dos que duvidavam de nossa capacidade de trabalhar juntos. Prevaleceu a coragem de romper padrões estabelecidos e explorar alternativas na busca de um futuro melhor para nossos povos."

A reunião, com representantes de 34 países, começou com uma hora de atraso, apesar de Lula ter chegado bem cedo, precisamente, às 8h15, ao Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Lula leu todo o discurso, sem introduzir um único improviso. Começou afirmando que o Brasil acolhe a todos "com braços abertos" e que esta cúpula exprime o compromisso de trabalhar, de forma pioneira, para aproximar duas regiões geograficamente distantes.

"É uma reunião ousada por seus objetivos e ambiciosa em suas aspirações. Queremos dar passos concretos e duradouros na luta pelo desenvolvimento e pela justiça social", disse, acrescentando que hoje todos estavam "diante da oportunidade histórica de lançar os fundamentos de uma ponte de sólida cooperação entre a América do Sul e o mundo árabe".

Cuidado

Ao contrário dos demais oradores, que criticaram aberta e diretamente a postura de Israel em relação à Palestina, Lula evitou entrar na polêmica entre palestinos e judeus, principal tema das demais falas, concentrando-se na questão econômica e sentimental. "Podemos traçar novos rumos na busca do desenvolvimento, sem desconsiderar caminhos tradicionais, mas com autonomia, criatividade e ousadia", observou.

"Mas esse esforço só será recompensado se soubermos transformar os frutos do desenvolvimento em instrumentos eficazes para diminuição das desigualdades sociais, a promoção dos direitos humanos e o aperfeiçoamento das instituições democráticas."

Depois de afirmar que a reunião não era "apenas em busca de vantagens econômicas e comerciais", o presidente tratou, indiretamente de um dos temas prediletos: reformulação da Organização das Nações Unidas (ONU) sem, no entanto, pedir, diretamente, voto para o Brasil na tentativa de obter uma cadeira com direito a voto no Conselho de Segurança (CS). "Defendemos a democratização dos organismos internacionais para que a voz dos países em desenvolvimento seja ouvida", declarou.

"Buscamos um comércio justo e equilibrado, livre de subsídios impostos pelos países ricos e que assegure aos países pobres os benefícios da globalização", disse, ao lembrar que o comércio é marcado por assimetrias e distorções.

"Queremos estabelecer uma nova relação de colaboração solidária com os organismos financeiros internacionais. Logramos o Mercosul (Mercado Comum do Sul) e o Conselho de Cooperação do Golfo, concluir um acordo de cooperação econômica", declarou o presidente, ao salientar que este encontro "é uma demonstração de confiança no diálogo como forma de aproximar países distantes culturas distintas e percepções diferentes do mundo".

Lula acentuou ainda que reuniões como esta expressam a confiança no poder do conhecimento mútuo como fator de aproximação e entendimento. Ele completou: "Compartilhamos valores: a tolerância e o respeito mútuo, o culto à diversidade, a aspiração ao desenvolvimento."

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