Não é por acaso que o PMDB deu todos os 78 votos presentes à sessão plenária de ontem (25), em favor da aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) que libera as alianças eleitorais nos Estados. Líderes de várias legendas e peemedebistas de todas as alas são unânimes em afirmar que o PMDB é o partido que mais lucrará com a queda da regra da verticalização, que limitava as coligações para eleger governadores ao modelo da parceria fechada na chapa presidencial.
"O grande beneficiário desta PEC é o PMDB porque, tanto os governistas, como o grupo de Anthony Garotinho e a ala de oposição favorável à candidatura do governador Germano Rigotto (RS) tiram proveito da desverticalização", resume o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), ao lembrar que são 16 os candidatos a governador pelo PMDB, todos livres para fazer as mais diversas parcerias eleitorais nos Estados.
Também não há dúvidas de que o PT foi o grande perdedor, e não apenas porque foi derrotado na tentativa de manter as parcerias estaduais engessadas ao modelo da aliança nacional para reeleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Quebrada a verticalização, não podemos excluir o cenário desastroso para o PT, que é o de um leque amplo de partidos apoiando o presidente Lula e os candidatos petistas isolados nos Estados", adverte o deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF).
Que o diga o PT do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. Em Minas, o partido pode acabar sozinho na briga pelo governo do Estado. O governador Aécio Neves (PSDB) trabalhou como poucos para derrubar a verticalização de olho na aliança da reeleição. Em tempos de parceria limitada pela chapa presidencial, Aécio elegeu-se por uma coligação de nove legendas apoiada por mais sete partidos. Agora, que 70% do eleitorado querem a reeleição, ele trabalha para fechar o apoio de 18 ou 20 partidos. Para tanto, diz um cardeal do PMDB, o tucano ofereceu a vice a ninguém menos que o atual ministro da Saúde, Saraiva Felipe, do PMDB.
Considerado uma federação de caciques estaduais, o PMDB é aliado do PT na Paraíba e no Paraná, e adversário ferrenho dos petistas no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal. Da mesma forma, apóia o PFL em Pernambuco, mas é inimigo dos pefelistas da Bahia. No Ceará, onde não disputará o governo e vai lançar o deputado Eunício Oliveira ao Senado, tornou-se fiel da balança, seja para facilitar a reeleição do governador tucano Lúcio Alcântara, ou para dar vitória a Cid Gomes, do PSB.
Diante deste cenário, o entendimento da cúpula peemedebista é o de que o grupo de Garotinho gostou, porque a verticalização ameaçava matar a candidatura própria do PMDB. A ala de oposição que apóia Rigotto festejou também o fato de ganhar tempo até a convenção de junho, que oficializará o candidato, para fazer a candidatura gaúcha decolar. Os governistas por sua vez, também ganharam prazo, seja para tentar desmontar a candidatura própria, caso Lula cresça muito na preferência do eleitorado, ou para aderir ao candidato do PMDB, na hipótese de ele empolgar o partido e o País, considerada hoje improvável.
Embora Lula tenha liberado os aliados para derrubar a verticalização e declarado que a regra que disciplina as alianças não garante fidelidade a ele nos Estados, dirigentes petistas estão convencidos de que o Planalto errou de estratégia ao facilitar a aprovação da PEC. Um deles conta que, em recente conversa no Planalto com Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, Lula foi advertido de que nada havia de mais inconveniente para sua reeleição do que o ingresso de Garotinho na corrida presidencial. Montenegro deixou claro que a candidatura do PMDB levaria a disputa ao segundo turno, com enorme risco de derrota para Lula. E se o segundo turno pode ser fatal a Lula como disse Montenegro, raciocina o petista, só a verticalização das alianças poderia livrá-lo de vez do peemedebista na corrida sucessória.
