Depois da "faxina" na dívida externa, o governo enfrenta agora o desafio muito maior de melhorar as condições da dívida interna. Com um estoque próximo a R$ 1,02 trilhão, a dívida interna do governo em títulos públicos é vista hoje pelas agências de classificação de risco como o maior empecilho para o Brasil receber o chamado grau de investimento, o selo de qualidade para novos investimentos. Em entrevista ao Estado, o secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, reconheceu que o desafio de fazer agora "faxina" na dívida interna é difícil de ser vencido.
Para isso, avaliou, será preciso quebrar a "cultura do CDI" (certificado de depósito interfinanceiro), a preferência dos investidores por aplicações que são atreladas aos papéis corrigidos pela taxa Selic, as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), que não trazem risco para o investidor.
Com os juros básicos elevados, no Brasil ocorre uma situação atípica em economias mais estáveis e que tem atrapalhado o trabalho do Tesouro para romper esse círculo vicioso: os papéis com prazos mais longos têm uma rentabilidade menor do que aqueles com prazos mais curtos. Essa situação faz com que os investidores prefiram operar no curto prazo e sem riscos em relação à volatilidade na taxa de juros.
Mas não se deve esperar da atual gestão que force o mercado a aceitar um perfil mais apropriado para a dívida interna, com menos títulos pós-fixados. Para Kawall, o Tesouro não pode "forçar a mão" para reduzir as LFTs de forma mais rápida. Na sua avaliação, o aumento da base de investidores é a melhor maneira de mudar essa situação. É na busca desse caminho que o Tesouro tem procurado atrair cada vez mais os investidores estrangeiros. A redução da oferta de papéis da dívida externa, anunciada esta semana, se insere nessa estratégia. Com menos opções de títulos da dívida externa, o governo quer atrair os investidores estrangeiros para dívida interna.
Kawall também afirmou que a proposta de Orçamento da União de 2007 será uma peça importante para sinalizar aos investidores o compromisso com o ajuste fiscal e melhorar a percepção de risco do País.