Brasília – Os depoimentos dos doleiros mineiros Haroldo Bicalho e Jamil Kalid nada acrescentaram às investigações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios. A afirmação foi feita pelo sub-relator de movimentações financeiras da comissão, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), responsável pela tomada do depoimento de ambos.

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Tanto Bicalho quanto Kalid negaram ter feito remessas de dinheiro para a conta "Dusseldorf", no Banco de Boston, a pedido do empresário Marcos Valério de Souza. A conta, cujo titular é o publicitário Duda Mendonça, teria servido para o repasse de dívidas de campanha do PT feitas em 2002.

Bicalho e Kalid sequer assumiram a condição de doleiros. Haroldo Bicalho disse que é empresário do ramo de couros e não soube explicar como seu nome foi parar nas investigações de outra CPMI, a do Banestado, que investigou a remessa de ilegal de dinheiro para o exterior. O nome de Bicalho figurava numa das principais contas investigadas pela CPMI do Banestado: a Beacon Hill.

Para Fruet, o depoimento de ambos foi marcado por "uma sucessão de mentiras e contradições". Na opinião do deputado, faltou a colaboração dos dois nas investigações. Fruet destacou que documentos obtidos com a quebra do sigilo bancário e telefônicos do empresário Marcos Valério mostram que Bicalho e Kalid eram seus operadores no envio de dinheiro para o exterior.

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O depoimento de Jamil Kalid foi diferente de todos os outros tomados até hoje pela CPMI dos Correios. Geralmente, os depoentes são tratados com severidade pelos deputados e senadores, mas Kalid provocou, várias vezes, gargalhadas no plenário. Com um carregado sotaque mineiro, o consultor financeiro paralisou o depoimento para contar um assalto realizado em sua empresa de "factoring", que o obrigou a fechá-la.

Nem mesmo o sub-relator, que presidia a sessão, conteve a gargalhada ao ouvir de Kalid o relato do desespero de seu funcionário Francisco, conhecido por "Ratão", por causa do tamanho das orelhas, ao lhe telefonar, de madrugada, para comunicar o assalto. Algumas vezes, o depoente interrompeu o interrogatório de Fruet para dizer que o raciocínio do parlamentar estava equivocado. "Vai por mim, isso aí não é assim não", afirmou, certa vez, Kalid ao questionar as informações de Duda Mendonça sobre a abertura da conta "Dusseldorf".

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Segundo ele, tal tipo de conta no exterior não é aberto para investimentos de curto prazo. Kalid disse que não acredita na história contada pelo publicitário na CPMI de que teria sido obrigado por Marcos Valério a abrir essa conta para que pudesse receber parte do dinheiro de campanhas eleitorais feitas em 2002. De acordo com Kalid, o alto custo para abertura e manutenção de contas como a "Dusseldorf" inviabiliza investimentos de curto prazo.

Kalid afirmou que jamais teve contato com Duda Mendonça ou Marcos Valério. Sobre sua relação com Haroldo Bicalho, disse que não havia muita afeição, mas que nunca houve briga.