Rio – O ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, está convencido de que José Dirceu está por trás da decisão do ex-presidente Itamar Franco de disputar a convenção do PMDB em junho para se candidatar à Presidência da República. É o que ele tem dito a correligionários e assessores desde que deixou o escritório do ex-presidente em Juiz de Fora, ontem (12). Garotinho foi à cidade mineira na expectativa de receber o apoio do ex-presidente, que se declararia candidato ao Senado pelo PMDB mineiro, mas se surpreendeu com o anúncio da pré-candidatura de Itamar. Para Garotinho, a mudança de planos foi obra do ex-ministro da Casa Civil, que esteve com Itamar horas antes de recebê-lo.
Hoje o ex-governador passou o dia em Bauru (SP), onde foi acompanhar o sepultamento de um tio. Oficialmente, ele informou por meio de sua assessoria, que não tem nada a declarar sobre encontro de Itamar e José Dirceu e que não pretende fazer declarações atacando o ex-presidente. Mas no grupo de Garotinho cristalizou-se a idéia de que foi Dirceu quem convenceu Itamar a se lançar candidato à Presidência. "O grupo de Itamar havia sinalizado para nós que ele diria a Garotinho que seria candidato ao Senado. Até a hora de ele abrir a boca, era isso o que nós e Garotinho pensávamos. Do contrário, ele não teria ido até Juiz de Fora", disse um colaborador do ex-governador.
Garotinho contou a seus principais correligionários no Rio que a conversa com Itamar Franco não durou mais do que cinco minutos e foi dura. Segundo o relato, Itamar foi seco e logo foi dizendo que era candidato, que sabia que Garotinho estava muito ocupado e que não havia muito tempo a perder com a conversa. Procurado pela Agência Estado, Itamar não quis dar entrevistas hoje. Auxiliares disseram que ele não quer falar sobre seu encontro com Dirceu ou comentar as desconfianças de Garotinho. No grupo de Garotinho, circularam informações de que o ex-governador Orestes Quércia, apontado como o articulador da candidatura de Itamar, teria conversado com Dirceu antes de ele embarcar para Juiz de Fora.
Garotinho e Dirceu traçam juntos uma trajetória de amor e ódio. Em 1998, Dirceu foi o principal artífice da intervenção da executiva do PT no diretório do Rio que impediu a candidatura ao governo do Estado do petista Vladimir Palmeira. O PT fluminense foi obrigado a compor a chapa de Garotinho, que já havia perdido uma eleição. A então senadora Benedita da Silva foi indicada como vice. Quando Garotinho resolveu despejar o PT do governo estadual, os dois travaram a primeira disputa. Dirceu reagiu e Garotinho então chamou o PT de "partido da boquinha". Em 2004, com o escândalo envolvendo o ex-assessor de Dirceu, Waldomiro Diniz, Garotinho atribuiu a Dirceu a indicação dele para a presidência da Loterj durante o seu governo. No ano passado, às vésperas da criação da CPI dos Correios, Garotinho afirmou ter recebido um telefonema do ex-ministro pedindo ajuda para que deputados do PMDB ligados ao ex-governador retirassem assinaturas do requerimento.
O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), alimentou os boatos de que um novo escândalo pode surgir no governo Lula no fim de semana e afirmou hoje, por meio de uma newsletter, acreditar que Itamar e Dirceu conversaram sobre esse assunto. Para o prefeito, Itamar está se adiantando porque sabe que Lula pode desistir da reeleição. "Dirceu sabe o que Itamar sabe e o que se diz que virá neste final de semana", afirmou Maia ao Estado por e-mail. O prefeito, no entanto, não disse de que escândalo trata, mas confirmou acreditar que o presidente pode desistir da candidatura diante da possível queda de algum outro ministro.
Cesar Maia avaliou ainda que Itamar Franco é um "candidato fortíssimo, pois compõe o perfil do anti-Lula na ética e na postura". Na opinião do prefeito, diante de um candidato à reeleição, ganha quem for o inverso da postura do presidente. "Itamar cumpre estes requisitos de sobra", afirmou. O presidente do PDT, Carlos Lupi, também disse que Itamar é um bom nome para a concorrer à Presidência. Sobre uma eventual aliança, disse que é preciso esperar a decisão do PMDB, mas afirmou que compor com Itamar é mais fácil do que com Garotinho.
"Dialogamos com Itamar com facilidade. Itamar é uma espécie de reserva moral do Brasil. Sua candidatura é boa para a democracia. Ele é um homem honrado, nacionalista, que saiu da Presidência com as mãos limpas", afirmou Lupi. Itamar disse ontem que tem recebido manifestações de simpatia de vários partidos, inclusive do PDT, que ainda não se definiu pela candidatura própria. Para Lupi, Itamar deve ter vantagem sobre Garotinho na convenção do PMDB. "Ele tem uma história dentro do partido. Tempo de casa também conta", afirmou.
