Pivô do escândalo do ‘mensalão’, depois de quase cinco meses da pior crise da história do PT e do governo Lula, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares entregou sua carta de desfiliação do partido no fim da tarde de hoje. Se não o fizesse, seria expulso neste sábado na reunião do Diretório Nacional. Delúbio cedeu aos apelos de vários colegas de legenda, inclusive do ex-ministro José Dirceu. E a depuração interna do partido deve ficar restrita a isso.
O PT deve arquivar amanhã as investigações a respeito dos sete parlamentares envolvidos no esquema patrocinado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. O Campo Majoritário, grupo moderado que dominou a legenda nos últimos 10 anos, quer encerrar já o relatório da comissão de sindicância criada para averiguar as responsabilidades dos deputados – entre eles Dirceu e o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha – e evitar a abertura de processos na Comissão de Ética da legenda.
Ainda sem adesão garantida de parte da esquerda petista, "na pior das hipóteses", o Campo pretende prorrogar os trabalhos da comissão até que sejam concluídos os processos de cassação em andamento no Congresso contra os parlamentares. A comissão de sindicância é composta exclusivamente por integrantes do Campo Majoritário, ao qual pertencem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a maioria dos petistas citados no esquema operado por Delúbio e pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. A apresentação do relatório da comissão tem sido sucessivamente adiada e a composição já foi alterada uma vez, depois que os representantes da esquerda abandonaram os trabalhos alegando sonegação de informações. "Essa é uma questão secundária, mas a deliberação é do Diretório Nacional", afirmou o presidente eleito do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), sobre a comissão de sindicância.
Desde a campanha para presidir o PT ele defende que o partido não julgue os parlamentares antes de qualquer definição sobre as cassações no Congresso.
A cúpula da legenda já derrubou três vezes tentativas da esquerda petista de submeter os demais envolvidos à Comissão de Ética. E Raul Pont, segundo colocado na eleição presidencial petista, avisa que vai propor mais uma vez a abertura de processo disciplinar contra os deputados e dirigentes citados. Integrantes do Campo deverão argumentar, então, que o assunto já foi deliberado antes e não pode ser levantado sem fatos novos ou recomendação da sindicância.
Desde o início do escândalo, a Comissão de Ética do PT abriu processo apenas contra Delúbio, e por iniciativa do próprio ex-tesoureiro.
Apesar da desfiliação, o presidente interino do PT, Tarso Genro, pretende levar a votação o parecer da Comissão recomendando a expulsão do ex-tesoureiro. A inciativa é encarada como uma forma de fazer o julgamento político de Delúbio.
Horas antes de entregar a carta, Delúbio Soares ainda tentava negociar, sem sucesso, uma pena mais branda. Procurou integrantes de diferentes correntes no comando do partido cobrando um "debate respeitoso", sem execração pública. Repetiu que o PT é seu "projeto de vida" e não deu sinais de que pretendia se antecipar à qualquer decisão do Diretório. Quando percebeu que não escaparia à degola, capitulou.
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