Interesse por cargos na Mesa, ocupação partidária de ministérios e uma reforma política que beneficie os grandes partidos comandam, de fato, as candidaturas de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara, dizem cientistas políticos. Chinaglia tem levado vantagem porque, por pertencer ao PT, partido grande e o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem o que oferecer em troca do voto.
Afora estes detalhes, a semelhança entre eles é tão grande que chega a confundir. A começar pelo fato de que Aldo, ex-líder do governo e ex-ministro da Articulação Política, e Chinaglia, atual líder do governo, são os principais esteios do governo Lula na Câmara. ?Eles não têm diferença nenhuma. Vão conduzir a Câmara de acordo com os interesses do Planalto?, diz o cientista político Paulo Kramer, professor da UnB. ?O que está em jogo é quem tem mais a oferecer. Chinaglia atraiu o PMDB porque o partido viu nele a possibilidade de conseguir mais cargos no ministério e a base do PT vê em Chinaglia o nome que pode ser o obstáculo para que o PMDB tome o poder?, analisa Kramer. ?Chinaglia vive desta ambigüidade. Quanto a Aldo, seu problema é que ele não tem moeda para troca.
Pouca diferença
Desde a Constituinte à frente da publicação "Quem é Quem no Congresso", Antonio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), também não vê diferença. Na sua opinião, nem a propensão de Chinaglia de ser mais governista, por ser do PT, pode ser aplicada, porque Aldo também é ligado ao governo.
O anúncio do PSDB de apoio a Chinaglia, avalia, tem motivação maior do que as apresentadas, de cargos na Mesa e presidências de Assembléias para tucanos em São Paulo e Bahia. Um fator que une PSDB e PT é a reforma política. Eles trabalharam pela cláusula de barreira, derrubada pelo Supremo Tribunal Federal, e têm interesse em fazer uma reforma de interesse dos grandes partidos. Aldo, pelo contrário, é de uma sigla pequena e trabalha contra a cláusula de barreira.
O cientista político André César diz que, apesar das disputas pelo controle da União Nacional dos Estudantes (UNE), em outros planos PT e PCdoB são aliados, a ponto de o PCdoB ter quase se transformado num satélite do PT nas disputas nos Estados e pela Presidência. ?No Congresso, também sempre foram unidos?, afirma. ?Ao que parece, Aldo esperava uma manifestação de Lula a seu favor, o que não ocorreu. Com isso, ficou sem condições de luta, já que não tem o que oferecer, porque o PCdoB não tem capital político, o que o PT tem de sobra. No plano ideológico, são muito parecidos. Não acredito que farão uma administração diferente um do outro.