Rio – O Brasil vem passando por um processo de redução gradual do seu nível de desigualdade na avaliação do coordenador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Néri. Embora de forma lenta a população mais pobre do país esta sendo beneficiada pelas politicas públicas como o Bolsa Familia. Essa afirmação do economista foi feita com base nos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad-2004), divulgada hoje (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nos anos 70 as taxas que medem a desigualdade entre ricos e pobres no país aumentaram muito e desde então estão praticamente estabilizadas. Para Marcelo Néri, "a gente não deve esperar grandes revoluções, até para que não nos decepcionemos. Mas esta aparente pequena queda da desigualdade, constatada pela Pnad, por ser continuada e consistente, vem promovendo a redução da pobreza no país", segundo ele, "De queda em queda, de Pnad em Pnad, a pobreza vai sendo reduzida no Brasil"
Para Néri, o país se acostumou a conviver com a desigualdade: "Existe uma resistência da própria sociedade em obter reduções em uma desigualdade que é muito grande. Nós somos o país mais desigual do continente, mais desigual do mundo". Ele lembra que a melhora nos índices de universalização do ensino a partir de meados da década de 90, principalmente no acesso ao ensino fundamental, vá refletir de alguma forma no mercado de trabalho "porque uma parte desta população vai para o mercado de trabalho com oportunidade de emprego melhor". Embora a qualidade da educação "ainda não seja das melhores", ele reconhece.
Outro fator favorável a esta mudança, para o economista da Fundação Getúlio Vargas, é o viés rural das políticas sociais brasileiras que vem sendo adotadas a partir da Constituição de 88, mas principalmente a partir dos últimos governos. "O bônus da nova política social, a aposentadoria rural do começo da década de 90; depois os programas Bolsa Alimentação e Bolsa Escola ainda no governo Fernando Henrique Cardoso. O Fome Zero e agora o Bolsa Família, no governo Lula, todos têm um viés rural – exatamente onde estão os mais pobres dos pobres. Este é um fator que já tem promovido uma melhora nos níveis de pobreza".
Para o economista da FGV, entretanto, esta atenção dedicada ao campo vem levando a uma crise nas cidades, que acontece desde 1997. "E aí não há bônus de política social. O bônus da política social foi para as áreas rurais e o ônus da crise econômica ficou nos grandes centros", concluiu, se referindo ao desemprego e a piora da qualidade de vida nas cidades.
