O ano da virada. Assim 2004 deverá ficar marcado para as distribuidoras de energia elétrica. Os balanços financeiros das companhias exibem resultados parciais muito superiores aos apresentados no mesmo período de 2003. Além disso, as empresas já elaboram , para 2005, planos de investimentos mais polpudos do que os executados neste ano.
Os resultados melhores e a recuperação dos investimentos das empresas são sinais claros de que o segmento deixa para trás a severa crise financeira que se abateu sobre o setor como conseqüência do racionamento de 2001/2002.
"Estamos caminhando", comemora o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Luiz Carlos Guimarães. "Registramos uma sensível melhora na situação financeira do setor", acrescentou. Guimarães ampara a sua análise em um levantamento da Abradee com 24 empresas do segmento, uma amostra correspondente a 89% do mercado de distribuição.
A pesquisa identifica um crescimento de 18,8% na receita operacional líquida das companhias, para R$ 35,9 bilhões, na comparação do acumulado de janeiro a setembro com o mesmo período de 2003. No mesmo comparativo, o trabalho sinaliza que o lucro líquido das empresas apresentou uma elevação de 45,5%, para R$ 1,993 bilhão. A expansão ocorreu, apesar de o volume de energia faturado ter sido, entre janeiro e setembro deste ano, apenas 0,6% superior ao registrado em 2003.
A Abradee atribui o crescimento da receita aos reajustes tarifários e às revisões periódicas a que foram submetidas as companhias. As revisões tarifárias periódicas, previstas nos contratos de concessão, permitem um reposicionamento das tarifas a cada quatro anos com o objetivo de assegurar o equilíbrio econômico-financeiro das empresas.
As distribuidoras acreditam que as perspectivas são igualmente positivas. Depois de amargarem, no pós-racionamento, uma piora de seus resultados em conseqüência de uma queda drástica nos níveis de consumo, as distribuidoras deverão contar com um crescimento médio do mercado de distribuição de 5% ao ano conforme números da Abradee.
"A demanda por energia no País, que foi de 41.180 megawatts (MW) médios em 2003, deverá chegar a 55.989 MW médios em 2009", previu o diretor-técnico da associação, Fernando Maia. Segundo ele, a projeção leva em consideração a expectativa de que a economia brasileira irá crescer em uma proporção de 4% ao ano.
Para atender esse crescimento, as distribuidoras, que nos últimos dois anos haviam reduzido significativamente os seus investimentos devido à retração do consumo, preparam agora uma elevação dos aportes. De acordo com dados da Abradee, as companhias deverão terminar 2004 com investimentos de R$ 3,115 bilhões na ampliação e modernização de seu atendimento. Para 2005, os cálculos indicam que os investimentos deverão atingir R$ 3,609 bilhões.
Até mesmo empresas que enfrentaram dificuldades extremas após o racionamento, como a AES Eletropaulo, vislumbram um futuro melhor que nos últimos dois anos. O presidente da distribuidora, Eduardo Bernini, já anunciou que a companhia poderá investir até R$ 450 milhões na rede de distribuição no próximo ano, depois de fazer aportes de R$ 289 milhões.
Para Guimarães, além da melhoria dos resultados das companhias, o segmento de distribuição obteve grandes vitórias no campo da regulação. O novo modelo do setor elétrico, introduzido este ano pelo governo federal, proporcionou ao segmento de distribuição o atendimento de velhas reivindicações, como a neutralidade no repasse dos custos não gerenciáveis das companhias para as tarifas.