Os diretores de Fiscalização, Paulo Sérgio Cavalheiro, e de Normas do Banco Central (BC), Sérgio Darcy, disseram hoje à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios que não é papel da instituição financeira cada uma das milhões de operações bancárias realizadas no País. Na visão do BC, a responsabilidade do banco é assegurar que as instituições bancárias desenvolvam sistemas adequados para identificar movimentações suspeitas e indícios de crimes financeiros. "Pelo volume elevado de operações que são feitas, diariamente, é impossível que o BC acompanhe cada uma delas", afirmou Cavalheiro.
Cavalheiro e Darcy foram convocados hoje a darem explicações à uma sub-relatoria da CPI sobre porque não foram percebidos pelos órgãos de fiscalização do sistema financeiro os saques em dinheiro feitos nas contas bancárias das empresas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e os empréstimos concedidos a ele pelos Bancos BMG e Rural, que seriam recursos do caixa dois do PT. Segundo o diretor de Fiscalização do BC, cabe à instituição analisar se o banco tem capacidade de conceder os empréstimos e não investigar para que se destinam os recursos tomados.
O BC informou que é obrigação das bancos comunicarem ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) saques em dinheiro com valores acima de R$ 100 mil, como uma das ações que visam o combate aos crimes financeiros. Por isso, admitiu ser "estranho" que o Banco do Brasil só tenha comunicado "movimentações suspeitas" nas contas das empresas de Marcos Valério em junho de 2005, após ter estourado o escândalo. "Se isso ocorreu assim tem que ser explicado", disse o diretor. A questão foi levantada pelo deputado Onix Lorenzoni (PSDB-RS) que afirmou não constar registros no Coaf sobre informações do BB em relação às movimentações bancárias de Valério ao longo de 2003 e 2004 quando elas teriam ocorrido.
Para os diretores do BC, o governo está conseguindo melhorar a fiscalização das movimentações financeiras para combater fraudes, lavagem de dinheiro ou crimes contra o sistema financeiro. "Nosso objetivo é fazer com que os bancos conheçam os seus clientes e tenham responsabilidade sobre isso", afirmou Sérgio Darcy, diretor de Normas. Apesar disso, os parlamentares, como Heloísa Helena (Psol-AL), afirmou que é impossível que não existam falhas na legislação ou nas normas internas do BC ou do Coaf já que o esquema do chamado "valerioduto" funcionou sem ser descoberto por vários anos.
