A descoberta da operação de compra de um dossiê contra candidatos tucanos e a suspeita de envolvimento de um assessor palaciano no caso levou o presidenciável Cristovam Buarque (PDT) a reforçar sua tese sobre o perigo de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ceder à "tentação autoritária" num eventual segundo mandato. "Essa minha posição já tem alguns meses e, sem dúvida alguma, o que aconteceu corrobora", disse Cristovam em campanha na cidade de Ipatinga (MG).

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O assessor especial da Secretaria Particular da Presidência da República Freud Godoy foi apontado pelo advogado Gedimar Passos como a pessoa responsável pela negociação de dossiê sobre o suposto envolvimento dos candidatos do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, e ao governo de São Paulo, José Serra, na máfia das ambulâncias.

Cristovam, comentando ainda sobre o seu "temor", citou também uma suposta declaração de Lula em jantar com um grupo de 35 grandes empresários na quinta-feira, em Brasília. Quando perguntado por que o Brasil não cresce como a China, teria dito que "aqui é mais complicado" que no país asiático, que "é uma ditadura". "Para fazer isso, só se eu fechasse o Congresso", teria afirmado Lula. O candidato do PDT viu no suposto comentário uma vontade do presidente de governar sem o Parlamento, algo que Lula já negou.

"Na semana passada, o presidente da República chegou a dizer que tinha vontade de fechar o Congresso de vez em quando. Ou seja, o presidente diz que tem vontade de fechar o Congresso, que não consegue governar com o Congresso aberto…", observou Cristovam cujo receio é que Lula vença a eleição no primeiro turno e, com um partido enfraquecido, acabe virando um líder autoritário.

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Cristovam, porém, foi cauteloso ao avaliar se o presidente participou ou tinha conhecimento da negociação do dossiê contra os tucanos. "Pode (haver envolvimento). Eu não vou garantir que sim porque eu não tenho prova." Ex-ministro da Educação de Lula, o candidato do PDT disse que o episódio o deixou "preocupado com a própria instituição democrática". "Que papel a classe política está fazendo!

Militância

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Cristovam exaltou sua atual legenda – segundo ele, "o único partido que está passando por essa lama toda com as mãos limpas é o PDT" – e criticou o comportamento da militância petista. "O que mais me surpreende é o acomodamento dos militantes do PT diante de todo esse escândalo. Não culpo o PT, culpo pessoas do PT.

Segundo ele, a outrora ferrenha militância petista se acomodou diante da corrupção e do fato de o governo não fazer a "transformação social" que prometeu. "Não ouço um militante do PT fazer crítica. Eu não vejo um pedir para sair desse partido que está nessa situação. Esse acomodamento é que dá muita tristeza", afirmou, para concluir que o PT "perdeu o vigor transformador".