Um passageiro pouco familiarizado com os meandros da aviação civil pode estranhar o fato de problemas meteorológicos – como o ocorrido em Congonhas, na terça-feira – ou a simples retirada de aeronaves de operação terem afetado os pousos e decolagens nos principais aeroportos do País. Mas, segundo especialistas do setor e representantes das companhias aéreas, isso é plenamente possível. Para que conseguissem reduzir os preços das passagens, nos últimos anos as empresas cortaram ao máximo os custos e enxugaram as malhas. Ou seja: um mesmo avião decola ainda de madrugada de um extremo do País e só desliga as turbinas depois de 14 horas de vôo.

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Se uma dessas aeronaves apresenta falhas, como ocorreu nesta semana com seis aviões da TAM, toda a seqüência de destinos – o chamado ‘trilho’, no jargão dos aeronautas – acaba sendo impactada, gerando um efeito dominó. Se a pane puder ser resolvida rapidamente, em 30 minutos ou até uma hora, o avião volta a operar logo em seguida. Mas, caso contrário, a companhia precisa deslocar uma aeronave de outra região do País, o que requer um delicado remanejamento. Os atrasos, tanto os provocados por retenções determinadas pelo controle de tráfego aéreo quanto os ocasionados por falhas nos aviões, também interferem nas escalas de trabalho das tripulações. Por lei, pilotos, co-pilotos e comissários de bordo não podem voar por mais de 11 horas.

‘Nós não podemos obrigá-los a trabalhar mais do que manda a legislação. E, por causa dessa crise, tem havido falta de pessoal, sim’, afirma o vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Anchieta Hélcias. Ele reconhece que, desta vez, o caos registrado nos últimos dois dias foi provocado principalmente pelas más condições meteorológicas de Congonhas e por falhas mecânicas em aviões da TAM, empresa que detém 47,7% do mercado da aviação comercial doméstica. Hélcias ressalva, no entanto, que controladores de vôo têm ordenado o seqüenciamento de até 3 minutos entre uma aeronave e outra. No aeroporto do Recife, segundo ele, esse intervalo chega a 15 minutos.

‘Isto também contribui muito para os atrasos. O comandante da Aeronáutica (brigadeiro Luiz Carlos Bueno) disse na reunião de hoje (ontem) que mais controladores de vôo vão em breve para os consoles. Vamos ver se isso ameniza a situação’, diz o representante do Snea. Ele acredita que, diante das medidas anunciadas pela Força Aérea Brasileira (FAB) e com a normalização dos horários das partidas, o porcentual de atrasos deva diminuir nos próximos dias.

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Segundo Hélcias, não há um índice ‘aceitável’ de atrasos, mesmo durante o período de férias e nas festas de fim de ano. Antes do acidente entre o jato Legacy e o Boeing 737-800 da Gol, por exemplo, as empresas aéreas trabalhavam com 96% de regularidade. ‘A aviação civil não foi feita para atrasar. O índice alcançado pelas companhias antes da tragédia com o vôo 1907 era excelente, comparável aos padrões internacionais’, afirma o vice-presidente do Snea. Ele voltou a destacar que a Aeronáutica e a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) não se adequaram ao crescimento do setor. ‘Essa crise é estrutural’, afirma Hélcias.