Para britânicos, Lula é a face da “esquerda responsável” na AL

Ao iniciar hoje sua visita de três dias ao Reino Unido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá constatar um clima de satisfação com seu governo no establishment britânico. Apesar de cientes do escândalo de corrupção que assolou no ano passado o governo e o Partido dos Trabalhadores , no geral autoridades e investidores britânicos concentram suas avaliações no que consideram o bom gerenciamento da economia brasileira, além do papel relevante assumido pelo Brasil nas negociações multilaterais do comércio.

Além disso, na ótica britânica, Lula é o líder da "esquerda responsável" na América Latina, em contraste ao que consideram de ‘populismo’ do presidente venezuelano Hugo Chaves e, potencialmente, do presidente boliviano, Evo Morales."Cada vez mais, as pessoas aqui na Europa comparam positivamente o Lula com o Chávez e o Morález, e isso obviamente conta muito a favor da imagem dele", disse a Agência Estado o professor especializado em América Latina da universidade London School of Economics, Francisco Panizza.

A cobertura dedicada até aqui pela imprensa britânica à visita de Lula comprova esse ambiente favorável em torno da viagem presidencial. Reportagens e editoriais publicados nos últimos dias demonstram alguma surpresa diante da aprovação popular do presidente, apesar da crise política do ano passado. Mas se concentram no "gerenciamento sólido da economia brasileira", na "figura carismática" do chefe de Estado brasileiro e na avaliação que o Brasil é uma "potência emergente" que terá um papel cada vez mais importante na economia mundial nas próximas décadas.

Entre os investidores, o clima é de clara aprovação, bem distante das incertezas sobre os rumos da economia brasileira que ainda dominavam os mercados internacionais quando Lula visitou Londres no início de 2003, logo após ser empossado no cargo.

"Há uma aprovação quase consensual entre os investidores da City londrina da maneira como o governo está gerenciando a economia, mesmo com a taxa de crescimento do Brasil sendo inferior da de outros emergentes", observou Panizza. Segundo ele, houve momentos durante o ano passado nos quais a crise de corrupção parecia que ia abalar a imagem de Lula. "Mas historicamente a atenção dos britânicos não está concentrada na América Latina, mas sim em outras regiões, como na Ásia e África", disse o acadêmico. "Por isso, o impacto da crise aqui foi muito menor."

Um dos principais objetivos da viagem, segundo assessores presidenciais, é justamente aumentar o interesse dos investidores e empresas britânicas pelo Brasil, que fica aquém do constatado em muitos outros países desenvolvidos. "Será um desafio, pois em geral, o interesse dos britânicos pelo Brasil e a América Latina é secundário e pontual", disse Panizza.

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