D. Erwin Kräutler, bispo-prelado da Prelazia de Xingu (PA), a cujo território pertence o município de Anapu, onde irmã Dorothy Stang foi assassinada em fevereiro de 2005, afirmou que a condenação do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, foi um primeiro passo rumo à Justiça, mas não deve ser o único.
"Foi um gesto concreto de que o caso não vai acabar em impunidade, mas as investigações precisam continuar, porque se trata de um consórcio do crime e outros culpados estão em liberdade", disse d. Erwin, um dos delegados brasileiros na 5.ª Conferência-Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe reunida em Aparecida.
O bispo do Xingu argumenta que a morte de irmã Dorothy, missionária norte-americana na Amazônia, foi anunciada e preparada durante muito tempo. "Dorothy foi ameaçada e não teve medo, como também eu não tive, pois achei que fosse só uma intimidação", revelou d. Erwin.
As investigações, sugere o bispo, devem se estender a todos aqueles que em algum momento se manifestaram contra a ação e a presença da freira na região do Xingu. "Foi tudo gravado, houve vereadores que declararam Dorothy persona non grata e gente que, durante uma procissão, gritou que ela devia desaparecer". Também ameaçado de morte, d. Erwin passou a ter a proteção de agentes da Polícia Federal desde outubro do ano passado, quando mensagens pela internet garantiam que ele não iria além de 29 de dezembro. "Continuo sob escolta, mas não me calei, pois várias vezes falei de um consórcio do crime".
Também o bispo de Blumenau (SC), d. Angélico Sândalo Bernardino, conhecido pela sua luta em defesa dos sem-teto quando era auxiliar do cardeal Paulo Evaristo Arns em São Paulo, acha que não basta a condenação do fazendeiro Bida. "Precisam ser condenadas também as estruturas agrárias do Pará, pois são essas estruturas que geram os conflitos", afirmou.
Para d. Angélico, a missionária norte-americana foi "vítima e mártir" de uma situação de injustiça que tem de acabar. "É incompreensível que haja tanta gente passando fome num país tão rico como o nosso", disse o bispo, advertindo que esse escândalo tem de acabar.