O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, negou que a reunião da Cúpula América do Sul-Países Árabes, que começou hoje, em Brasília, seja um fracasso, por causa da ausência dos principais dirigentes dos países árabes e de algumas nações sul-americanas, como Colômbia e Bolívia.
"Nós temos aqui uma obsessão de diminuir aquilo que nós fazemos. Em muitos casos, o ministro do Exterior da Arábia Saudita não é um simples mortal, como eu, demissível. Ele é filho do rei, tem um poder que transcende o cargo que está ocupando neste momento", disse, em entrevista na manhã de hoje no programa "Bom Dia Brasil", da Rede Globo de Televisão.
Segundo Amorim, além dos presidentes da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, do Iraque, Jalal Talabani, e da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, participarão do encontro 60 ministros e mais 250 empresários árabes. "Querer mais do que isso é querer olhar para baixo", disse o ministro das Relações Exteriores do Brasil.
Amorim negou também que o interesse do governo brasileiro, com a cúpula, seja atrair adesões para que o Brasil seja membro permanente do Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU). "Tudo vocês acham que a gente faz por causa do assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Não é assim ", afirmou.
"Nós estamos tentando aproximar duas regiões em desenvolvimento com resultados que já ocorreram. A cúpula foi um êxito até antes de se realizar. Nosso comércio com países árabes aumentou em 50%, vamos ter um encontro empresarial que eu acho que é recorde: 1.200 empresários, sendo 250 árabes e 300 de outros países sul-americanos e outros brasileiros. A nossa questão no Conselho de Segurança é uma questão que lidamos dentro dos escaninhos adequados. Não é uma obsessão que contamina todos os aspectos da política externa brasileira", afirmou.
Ele negou também que a intenção da administração federal brasileira, com a Cúpula América do Sul-Países Árabes, seja substituir, com o tempo, as relações comerciais com os Estados Unidos. "Os Estados Unidos continuam sendo o nosso principal mercado", garantiu.
A título de exemplo, Amorim citou que o comércio com os EUA nos dois primeiros anos da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva cresceu 30%, enquanto que, no primeiro período do governo anterior, o crescimento foi de 11%.
"Essas coisas são sazonais; não posso ter certeza. Mas se mantivermos o ritmo de crescimento este ano, as nossas exportações com os Estados Unidos terão crescido tanto quanto nos oito anos do governo anterior", declarou. "Acontece que a maneira de trabalhar com os Estados Unidos é diferente, os caminhos estão abertos", acredita.
Com relação ao Poder Executivo norte-americano, o ministro das Relações Exteriores prosseguiu afirmando que, na visita ao Brasil, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, acentuou que a Casa Branca estava satisfeita com a Cúpula América do Sul-Países Árabes, promovida pelo Brasil. Isto porque segundo Amorim, os EUA também pregam reformas econômicas, sociais e políticas no mundo árabe e o encontro poderá ser um exemplo positivo para esse fim.