Supervisor geral, treinador de goleiros e técnico do time infantil são as funções que Edinho recebeu do seu pai, Pelé, no Litoral FC. Enquanto o Rei participava de uma reunião com empresários e dirigentes do seu clube, na tarde desta segunda-feira, numa sala ao lado o ex-goleiro ficou durante quase uma hora se exercitando e transpirando muito na esteira, se preparando para a sua reintegração à sociedade.
Edinho saiu da prisão no fim de dezembro e vai responder em liberdade aos processos em que é acusado de associação para o tráfico e lavagem de dinheiro. Para ajudar o filho, Pelé promete comparecer duas vezes por semana ao Litoral para acompanhar de perto a formação de novos jogadores. Edinho já recebeu convite de Vanderlei Luxemburgo para fazer parte de sua comissão técnica no Santos, e vai se reunir com o presidente santista, Marcelo Teixeira, que pretende lhe dar um emprego nas categorias de base do clube.
"Ainda não sei bem o que é. Mas vou agendar uma reunião com Marcelo para os próximos dias. Estou muito feliz por entrar em campo outra vez e a idéia de voltar ao Santos me deixa contente, porque lá é a minha segunda casa", afirmou Edinho, que não teme vinganças, hipótese levantada quando ele foi preso. "Isso foi sensacionalismo. Esse tipo de preocupação eu não tenho porque não fiz nada. Vou levar uma vida normal. E estou feliz porque tenho um caminho positivo para seguir, como a minha família quer", disse Edinho, que chegou a sugerir que parte do que ele sofreu foi em razão de ser filho de Pelé.
Pelé disse, rindo, que se ele fosse Edinho não seria técnico de futebol. Em seguida, emocionado, revelou que pediu para o filho para falar sobre o seu sofrimento com a prisão para os meninos do Litoral para servir de exemplo a eles. "A liberdade de Edinho foi o melhor presente que eu recebi no fim de ano. Sei que as pessoas não entendem direito, mas as coisas não acontecem por acaso. Só que Edinho não é bandido, não houve provas contra ele e nada que o desabonasse", afirmou o Rei. "A vida tem muitas surpresas e armadilhas por aí", acrescentou.
Com a cabeça raspada, vestindo camiseta regata e exibindo inúmeras tatuagens, Edinho foi para o campo e apitou os jogos entre seis equipes de garotos do Litoral. O que Pelé está preparando para 2007 deve tomar o tempo do filho. "Vamos ajudar o Jabaquara e disputarmos todos as competições da Federação Paulista de Futebol, do infantil ao sub-20", adiantou Pelé.
Sempre acompanhado de Manoel Maria, companheiro de Pelé em seus últimos momentos de Santos e espécie de faz-tudo no Litoral, e de Clodoaldo, da diretoria do clube, Pelé pediu licença aos repórteres e fotógrafos e durante alguns minutos falou com aproximadamente 60 garotos do Litoral que, sentados na altura do meio-de-campo, olhavam atentamente para o Rei do Futebol como se estivessem diante de uma miragem. Brincou com alguns deles, pedindo para que fizessem cara de artista como se estivessem no cinema, e antes que o primeiro jogo começasse, apresentou suas duas maiores apostas no Litoral.
"Vocês devem se lembrar que, quando assumi o amador do Santos (em 1999), Manoel Maria me chamou a atenção sobre dois garotos. Eram Robinho e Diego. Agora peço que vocês prestem bem atenção nesses dois rostinhos." Os garotos são Felipe, atacante ambidestro de 16 anos, e Wellington, ou Tindurim, 15, também atacante, destro.
