Depois de quatro anos, a professora de Língua Portuguesa Maria Sufaneide ainda não se conformou com os efeitos causados em sala de aula pela política da progressão continuada adotada pela Secretaria de Estado da Educação. ?Os alunos interiorizaram as medidas e hoje sabem que aprendendo ou não eles serão promovidos para a série seguinte?, diz ela. ?É uma angústia. Por mais que a gente fale para eles da necessidade de estudar, eles debocham e dizem que no final passam de ano.?
As reclamações de Maria, professora dos níveis fundamental e médio da Escola Estadual Professor Antônio Emílio de Souza, na Freguesia do Ó, zona norte, são as mesmas de boa parte dos docentes da rede. Maria respondeu à pesquisa da secretaria e disse que não se surpreendeu com alguns dos resultados: a progressão ficou no topo da lista das críticas.
?A forma como o governo adotou a progressão, de cima para baixo, sem um debate com os professores, levou à queda da qualidade do ensino. Virou aprovação continuada?, acrescenta ela, usando o apelido que a política ganhou entre muitos professores.
Com experiência de 10 anos no magistério, a professora de História de uma escola na zona norte (que preferiu não revelar seu nome com medo de represálias da Secretaria) lamenta já ter permitido que alunos seus passassem de ano, ainda que não tivessem condições. ?Sou contra a prática de retenção, que era algo excludente, mas agora escancarou muito. Às vezes, os pais pedem para reprovar seus filhos porque eles não aprenderam o que deveriam ter aprendido.?
Valorização
A pesquisa da Secretaria registrou também o que o secretário estadual de Educação chamou de ?crise de auto-estima? entre os docentes. A professora de História diz saber bem o que é isso. ?Não temos um plano de carreira decente e as condições de trabalho são muito ruins em alguns lugares.? A professora conta que em uma das duas escolas estaduais em que dá aulas, na zona norte, ela precisa pagar do próprio bolso as cópias das provas bimestrais para os alunos.
Outras críticas recorrentes – tanto quanto a questão salarial – são o excesso de alunos em sala de aula e a redução do número de aulas de disciplinas como História e Sociologia. Outra professora de História, que trabalha numa escola da rede em Mauá, na Grande São Paulo, avalia que sua carreira não vem merecendo o devido respeito do governo. “A desvalorização é total e fica parecendo que nós somos os responsáveis pelo fracasso escolar.”