A filha do homem derrubado pelo general Augusto Pinochet num golpe de Estado em 11 de setembro de 1973 disse que o ditador, morto ontem em Santiago, foi "um governante nefasto e o principal responsável pelas ações mais atrozes cometidas na história de nosso país". Isabel Allende, prima da famosa escritora de mesmo nome e dirigente do Partido Socialista do Chile, lamentou que Pinochet tenha morrido sem que "os julgamentos (contra ele) tenham chegado ao fim".
Seu pai, presidente constitucional Salvador Allende, morreu no palácio presidencial de La Moneda, durante o golpe militar. Supõe-se que tenha cometido suicídio para não se render ao Exército. "Morreu Augusto Pinochet Ugarte, o general que traiu seu juramento, que traiu o presidente Allende", declarou a dirigente socialista na sede do Partido Socialista Obrero Espanhol, em Madri, à imprensa.
Isabel Allende disse também que a melhor herança que se pode deixar "às futuras gerações é um ‘Nunca mais’. Nunca mais um golpe de Estado, nunca mais romper a ordem constitucional democrática, nunca mais violações dos direitos humanos". Previamente, Isabel Allende havia se reunido com o chefe do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, com o qual coincidiu na necessidade de "devolver a dignidade e a memória àqueles que foram injustamente julgados". Ao lembrar o fato de que Pinochet morreu em 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, Isabel Allende disse: "É uma ironia do destino", pois Pinochet "sempre negou" a defesa dos direitos humanos, considerando-os "uma invenção marxista".