Apesar da possibilidade de um pontificado mais breve que o do antecessor, o papa Bento XVI deverá imprimir sua forte personalidade na condução da Igreja Católica e contornar a apressada imagem de que seria uma cópia de João Paulo II. A avaliação é de d. Antônio Celso de Queirós, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

continua após a publicidade

Para d. Celso, em sua função de líder espiritual dos católicos, Joseph Ratzinger poderá surpreender com avanços no diálogo do Vaticano com as demais igrejas cristãs e as diferentes religiões, na sua relação com as dioceses e as conferências episcopais e até mesmo na discussão sobre a "realidade da mulher".

"O papa Bento XVI não vai querer ser um xerox do papa João Paulo II", disse d. Celso. "Como braço direito de João Paulo II, o cardeal Ratzinger foi mais preocupado em zelar pelo que a Igreja tem do que pelo que a Igreja poderia dar. Sua função era de guarda da casa. Como papa, Bento XVI deverá revelar outra face, outro viés", completou, logo depois de lembrar de vários e rápidos encontros que teve com o cardeal alemão, em Roma, para tratar de dificuldades pontuais da Igreja no Brasil e para ouvi-lo sobre os rumos do Vaticano no mundo.

Pureza da doutrina

A CNBB, entretanto, não tem dúvidas de que o papa Bento XVI continuará a ser o defensor da "delicada pureza da doutrina católica romana e dos costumes". Em questões polêmicas como a legalização do aborto, da eutanásia, o divórcio e a clonagem de seres humanos, a Igreja persistirá em suas posições contrárias com os mesmos argumentos da defesa da vida, da integridade humana, do sacramento do matrimônio e da família. Mas, conforme adverte dom Celso, "qualquer papa se oporia a essas propostas".

continua após a publicidade

Sobre atritos muitas vezes observados entre a CNBB, de tendência progressista, e as posições mais conservadoras de Roma d. Celso não acredita que haverá grandes mudanças. Entretanto, advertiu que esses "esbarrões" ocorrem no mundo inteiro – não só no Brasil – como reflexo da tendência da Igreja, nos diferentes países, em ser fiel à busca de soluções para os problemas locais. "Essa é uma tensão que sempre vai existir", resumiu.

Pobres

Em sua opinião, o novo papa deverá caminhar mais nas discussões sobre a "realidade das mulheres" – os dilemas que ainda persistem de costumes mais opressivos do passado – e no combate à pobreza. Nenhum papa, argumentou, poderia recuar nesses pontos, especialmente na opção da Igreja pelos pobres, herdada do Concílio Vaticano II (1962-1965). O diálogo entre as religiões, que está nas orientações do mesmo concílio e que ganhou força no pontificado de João Paulo II, deverá ter continuidade.

continua após a publicidade

Como lembrou d. Celso, a Igreja não recua em terreno já adquirido. "A eleição de um novo papa não significa que as missas voltam a ser celebradas em latim."