A Catedral da Sé foi nesta sexta-feira (11) o palco do mais forte discurso feito pelo papa Bento XVI em sua primeira visita ao Brasil. Em um pronunciamento de cerca de meia hora, dirigido à Cúpula da Igreja Católica no Brasil, o sumo pontífice reafirmou de forma enfática o compromisso de seu pontificado com os valores tradicionais do catolicismo, pregando a obediência, o celibato e o direito à vida. Ele ainda criticou o divórcio e as uniões livres, manifestando preocupação com os católicos que abandonam a vida eclesial.
Ele fez, ainda, um apelo aos bispos para que fiquem atentos ao discernimento das vocações dos jovens que estão disponíveis ao serviço da Igreja. "Um bom e assíduo acompanhamento espiritual é indispensável para favorecer o amadurecimento humano e evita o risco de desvios no campo da sexualidade", disse o papa a uma platéia de cerca de 250 bispos brasileiros.
Bento XVI também lembrou em seu discurso que "não é nenhuma novidade a constatação" de que o Brasil convive com o déficit histórico de desenvolvimento social, "cujos traços extremos são o imenso contingente de brasileiros vivendo em situação de indigência e uma desigualdade na distribuição de renda que atinge patamares muito elevados".
Bento XVI pediu que a direção da Igreja trabalhe incansavelmente para formação dos políticos e dos brasileiros que têm algum poder decisório, para que eles saibam dar um rosto humano e solidário à economia. "Ocorre formar nas classes políticas e empresariais um autêntico espírito de veracidade e de honestidade", pregou o sumo pontífice.
O papa ressaltou também que os tempos de hoje são difíceis para a Igreja e muitos de seus filhos estão atribulados. "A vida social está atravessando momentos de confusão desnorteadora. Ataca-se impunemente a santidade do matrimônio e da família, iniciando-se por fazer concessões diante de pressões capazes de incidir negativamente sobre os processos legislativos. Justificam-se alguns crimes contra a vida em nome dos direitos da liberdade individual, atenta-se contra a dignidade do ser humano, alastra-se a ferida do divórcio e das uniões livres".
Ao defender os valores básicos da vida sacerdotal, como o celibato, o sumo pontífice disse que quando se dá preferência a questões ideológicas e políticas, inclusive partidárias, a estrutura da consagração total a Deus começa a perder o seu significado mais profundo. "Como não sentir tristeza em nossa alma? Mas tende confiança: a Igreja é santa e incorruptível", salientou.
E sob aplausos dos bispos, citou Santo Agostinho: "Vacilará a Igreja se vacila o seu fundamento, mas poderá talvez Cristo vacilar? Visto que Cristo não vacila, a Igreja permanecerá intacta até o fim dos tempos.
Para reforçar a preocupação com o afastamento de católicos da Igreja, o papa frisou aos bispos a necessidade de encaminhar a atividade apostólica como uma verdadeira missão dentro do rebanho que constitui a Igreja Católica no Brasil. "Trata-se efetivamente de não poupar esforços na busca dos católicos afastados e daqueles que pouco ou nada conhecem sobre Jesus Cristo", afirmou.
O papa chegou pontualmente à Catedral da Sé, às 16 horas, saudado com o badalar dos sinos da Catedral, e foi aclamado ao som de "Bento, Bento, Bento" pela multidão que se aglomerava em frente do local. De acordo com informações da Polícia Militar, mais de 500 mil pessoas acompanharam o trajeto do papa desde a saída do Mosteiro São Bento até a Catedral da Sé. A segurança do papa no evento foi muito reforçada. Além de agentes da Polícia Federal, da guarda especial do papa, das polícias Militar e Civil, o Exército também estava presente, inclusive com tanques de guerra circundando a Catedral.