Empenhado em reduzir a pressão a que está submetido, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, antecipou para hoje (16) sua ida à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, prevista inicialmente para a terça-feira da semana que vem. Mas a estratégia deu errado. O objetivo da manobra era evitar a convocação do ministro para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, que investiga denúncias de corrupção durante a gestão de Palocci à frente da prefeitura de Ribeirão Preto. A iniciativa, porém, irritou a oposição e praticamente decretou a convocação do ministro pela CPI.

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Numa reação à manobra do governo, a oposição se recusou a questionar Palocci sobre as suspeitas levantadas contra ele por seus ex-assessores na prefeitura – prolongando o clima de escândalo em torno do ministro. Surpreendidos com a antecipação do depoimento definida durante o feriado, os dois principais partidos da oposição – PFL e PSDB – levaram Palocci a falar apenas sobre política econômica e a expor suas divergências com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. "Sobre as coisas de Ribeirão Preto ficou a palavra dele", resumiu o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), sugerindo que chegará a hora em que o ministro será interrogado pelos parlamentares.

A antecipação do depoimento foi interpretada como uma tentativa de ludibriar o Senado e suas comissões de inquérito. Além disso, quebrou-se definitivamente o pacto informal com a oposição de preservá-lo para evitar a contaminação da economia pela crise política. "Em um país normal ele teria saído daqui hoje como ex-ministro", disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que até recentemente defendia a blindagem do ministro. sobre o fracasso da estratégia do Palácio do Planalto.

A data do depoimento de Palocci na CPI será definida na próxima semana. O relator da comissão, Garibaldi Alves (PMDB-RN) por exemplo, que até agora defendia a tese de adiar ao máximo a convocação do ministro. Garibaldo mudou de idéia, Segundo ele, a exposição na CAE não respondeu às denúncias de que é alvo e, portanto, Palocci terá, mesmo, de atender à convocação. "Em termos de CPI, seu comparecimento à CAE foi frustrante", alegou. Garibaldi não foi consultado sobre a antecipação do comparecimento do ministro. Ele soube da mudança pela imprensa.

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O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), tampouco foi ouvido. Ainda que tivesse sido, ele foi categórico ao defender que "nada altera a necessidade de o ministro depor na comissão". "O depoimento de hoje não impede a CPI de votar imediatamente o requerimento convocando Palocci", defendeu. O senador José Jorge (PFL-PE) disse que apresentará outro requerimento se o senador Geraldo Mesquita (sem partido-AC) mudar de idéia e desistir de levar o ministro à comissão. Segundo José Jorge, os problema de economia enfrentados pelo ministro são internos, "de brigas no governo e não se resolvem na CAE", alegou. "Da mesma forma, é na CPI que esperamos ouvi-lo sobre denúncias que vão do superfaturamento de contratos para abastecer o caixa 2 do PT a negócios escusos com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal", justificou.

O tratamento dispensado pela oposição ao ministro Palocci foi acertado numa reunião de mais de três horas entre senadores do PFL e PSDB. Ele substituíram a idéia inicial, de boicotar e não comparecer à exposição do ministro na CAE, pela que terminou prevalecendo: a de restringir as perguntas a questões da economia, deixando claro que o foro para tratar de denúncias é a CPI dos Bingos. "Fazer o contrário seria desprestigiar as apurações das comissões parlamentares de inquérito", explicou o líder pefelista, José Agripino (RN). O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), criticou a forma como foi feita a mudança, sem ouvir os dirigentes da comissão. "Cada assunto tem o foro certo, não seremos nós a ignorar essa boa prática", justificou.

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Para Agripino, a forma como o governo mudou de idéia, sem ouvir os parlamentares, mostra falta de coordenação. "Eu recebi uma mensagem de Mercadante (líder do governo) no telefone mas somente hoje, quando estava reunido com a oposição é que ele voltou a ligar", informou. José Jorge disse que sua mulher havia achado que era um trote o recado de que ele era procurado por alguém do Palácio do Planalto. A assessoria de Mercadante repetiu a frase que ele disse na CAE, de que ligou para "todos os líderes e só não conseguiu falar com José Jorge, que estava no avião".

A senadora petista Ideli Salvatti (SC) atribuiu a pressa na operação à necessidade de o ministro da Fazenda dar uma satisfação ao mercado. Para ela, cabe igualmente à oposição se preocupar com a situação que os ataques a Palocci causam à economia.