As duas administrações do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na prefeitura de Ribeirão Preto (SP), entre 1993 e 1996 e de 2001 a 2002, geraram ao menos 30 inquéritos civis e criminais, tanto no Ministério Público, quando na Polícia Civil da cidade paulista. Agora, se confirmada a sua demissão e não um afastamento, Palocci perde o foro privilegiado e deve ser indiciado nos inquéritos criminais que ainda não foram arquivados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelo fato de ele ser ministro.
Promotores e a polícia adotam cautela, mas até mesmo um pedido de prisão pode ser solicitado contra o ex-ministro. Mesmo assim, de acordo com o promotor do Grupo de Atuação Especial Regional de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco), Sebastião Sérgio da Silveira, apesar de processos criminais terem sido arquivados no STF pelo fato de Palocci ter sido ministro, as investigações seguem na esfera cível. "As ações de improbidade administrativa continuam em Ribeirão Preto por parte do Ministério Público", afirmou Silveira.
Entre as ações contra a administração de Palocci estão, por exemplo, como o próprio ministro citou em depoimento à CPI dos Bingos, a aquisição de cestas básicas sem licitação ou mesmo com licitações suspeitas de direcionamento, e pagamento por obras que nunca foram feitas. Entre elas está o Vale dos Rios, um grande projeto de intervenção na área central de Ribeirão Preto, que custou R$ 8 milhões aos cofres públicos e nunca saiu do papel.
Mas a relação do Palocci com o Grupo Leão Leão ganhou destaque nacional por envolver, além da companhia empreiteira maior doadora da campanha de 2000 à prefeitura local, nomes como Rogério Buratti, Ralf Barquete dos Santos e Wilney Barquete. Todos foram ex-funcionários com cargos de chefia no Grupo Leão Leão e ex-secretários de Palocci. Ralf, morto em 2004, e Buratti lideraram o grupo apelidado de "República de Ribeirão Preto", que se reunia na casa alugada em Brasília (DF) em supostos encontros para fazer lobby. Em agosto do ano passado, no auge das investigações sobre suspeitas de irregularidades no processo de coleta de lixo e varrição em cidades paulistas, Buratti denunciou o pagamento de propina de R$ 50 mil por mês pelo Grupo Leão Leão a Palocci.
Segundo o depoimento de Buratti, o dinheiro era enviado ao diretório do PT em São Paulo. Todos os acusados negam as informações. O inquérito gerou outras investigações, entre elas mais uma de improbidade administrativa durante a gestão do ex-ministro e de seu sucessor, Gilberto Maggioni (PT), e ainda o de superfaturamento no valor pago pela prefeitura para o sistema de varrição de áreas públicas na cidade, feito pelo Grupo Leão Leão entre 2001 e 2004, que pode chegar a 70%.