As expectativas de inflação estão convergindo para as metas, o que permite ao governo “relaxar a política monetária”. A afirmação consta da carta de intenções enviada pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) e presidente do BC, Henrique Meirelles, ao FMI (Fundo Monetário Internacional), na conclusão da quarta revisão do acordo com o Brasil.

A afirmação reforça a expectativa de queda dos juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) que acontece na próxima semana. O mercado espera uma queda de 1,5 a 2 pontos percentuais na taxa básica da economia brasileira – a Selic – que hoje está em 22% ao ano.

Além disso, o governo brasileiro também acredita que a economia “claramente superou as dificuldades iniciais” e a expectativa é de que a retomada do crescimento ocorra em bases sólidas.

Palocci e Meirelles reafirmam o compromisso do País em buscar atingir as metas centrais de inflação para 2004 e 2005, de 5,5% e 4,5%, respectivamente. De acordo com o documento, apesar de ambas as metas comportarem uma margem de erro de até 2,5 pontos percentuais, “a política monetária estará visando firmemente o valor central dessas bandas”.

A avaliação feita é de que a confirmação da meta de 5,5% para 2004 reforça o papel da política monetária em propiciar “um ambiente de estabilidade que facilite as decisões econômicas, ao mesmo tempo em que evita um custo excessivo em termos de produto que uma desinflação mais rápida traria”.

A carta enviada ao Fundo destaca também o bom desempenho das contas externas, com crescente diversificação de mercados e produtos, mesmo com o ambiente internacional volátil.

A quarta revisão do acordo com o FMI foi aprovada na última sexta-feira pela diretoria do Fundo e o País terá direito a sacar cerca de US$ 4,2 bilhões. O ministro Palocci já anunciou que o saque será feito.

Bancos

Palocci e Meirelles reconhecem, na carta enviada ao Fundo, que a venda dos bancos federalizados avançou mais lentamente do que o previsto. Eles justificam que esse atraso se deve a problemas de questões legais.

O ministro e o presidente do BC prevêem um avanço significativo da venda desses bancos até o final do ano, com a conclusão de nova rodada de avaliações para a determinação do preço mínimo de venda. Por conta do atraso, Palocci e Meirelles propõem ao fundo, na carta, a atualização do parâmetro estrutural previsto no acordo, referente a venda dos bancos federalizados. Eles propõem atualizar o parâmetro para o fim de setembro.

Copom não deverá repetir “ousadia”

Analistas reduzem a projeção para os juros básicos no final do ano para algo entre 17% e 18%. Mas não esperam um corte ousado em setembro. O ?gradualismo? do Banco Central, dizem, deve cravar queda de 1,5 a 2 pontos percentuais, inferior ao corte de agosto. Alguns economistas afirmam que índices de inflação que saem nos próximos dias podem gerar expectativa de redução maior. Antes da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), no mês passado, quando o BC surpreendeu o mercado ao cortar os juros em 2,5 pontos percentuais (para 22%), economistas estimavam que a taxa estaria em 20% em dezembro.

O BC, segundo analistas, promoveu um ajuste necessário ao cortar os juros de forma agressiva em agosto, mas sinalizou na ata a preocupação de não gerar um choque na economia.

?O BC tem o receio de cortar rápido, passar do ponto e ter que voltar a subir a taxa Selic. Porque a inflação repica”, diz Jorge Simino, diretor da Unibanco Asset Management.

Simino considera subjetiva a decisão de cortar 1,5 ou 2 pontos percentuais na reunião do Copom nos próximos dias 16 e 17: “A redução de até dois pontos percentuais é técnica. Mais do que isso, por enquanto, é exagero. Entre 1,5 pontos e 2 pontos percentuais, é indiferente”.

Com a Selic em 18% em dezembro, os juros reais (medidos pelo swap de 360 dias e a expectativa de inflação nos próximos 12 meses) estariam em torno de 11%, segundo Alexandre Bassoli, do HSBC, e Alexandre Póvoa, do Banco Modal. “Os juros longos, os mais relevantes para as famílias e empresas, não param de cair”, diz Póvoa, que estima em 17% a Selic em dezembro. “A timidez do BC em reduzir a dívida cambial pode indicar que o corte de juros continuará agressivo.”

Bassoli considera possível uma redução entre 1,5 e 2 pontos percentuais em setembro, para encerrar 2003 em 18,5%.

“Depende de como virá o próximo IPCA. A produção industrial continua fraca e os números da Anfavea [Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores] foram decepcionantes”, diz. “Mas, nesse patamar, o BC tem que ser cauteloso porque nunca existe certeza absoluta sobre o nível real da taxa de juros.”

Analistas lembram que o efeito de corte dos juros leva de cinco a seis meses para aparecer.

“Há gargalos para o crescimento sustentável que não se superam em seis meses. Se cortar muito rápido, aumenta a demanda, caem as exportações e cresce a pressão sobre preços”, afirma Simino.

O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, também revisou sua expectativa de taxa Selic em dezembro para 18%, com projeção do juro real de 11,85% no mesmo mês, segundo relatório do banco.

Com relação à continuidade da redução dos juros, boa parte dos analistas afirma esperar que o Copom promova cortes de um ponto percentual em outubro e de meio ponto percentual nos últimos meses do ano.

Inflação

Vários índices de preços saem nesta semana, mas o mercado espera com maior ansiedade o IPCA, que baliza a política monetária, e o IGP-M. Ambos saem amanhã. Na quarta-feira, será divulgado o IGP-DI.

“Se o IGP-M vier abaixo de 0,35%, 0,40%, o mercado vai aumentar a aposta de corte no próximo Copom de 2 a 2,5 pontos percentuais”, diz Simino.

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