Em certos assuntos, palavra de fã tem certo peso. Principalmente quando o caso é de se criticar o ídolo. Por isso, me sinto no direito de falar o que eu vou falar sobre Roberto Carlos – não o lateral (este vai bem, obrigado), mas sim o cantor, inegavelmente o maior ídolo popular que nossa música já viu. Aqui escreve um jornalista que até há pouco comprava os discos do Roberto, e que agora está decepcionado.
E essa é a hora exata para falar disso, porque essa tradição – não só minha, mas de muita gente – começou no Natal. Lá em casa, começou com meu irmão, que recebia os compactos do Rei, e depois (pelos anos 80) eu recebia os LPs, sempre com músicas brilhantes, como Cama e Mesa, Fera Ferida e outras tantas. Ainda hoje existe um certo preconceito com o Roberto, muito por nosso já famoso patrulhamento ideológico. Quem era “cabeça”, “intelectual”, “de esquerda”, não podia gostar dele.
E mesmo as “cabeças intelectuais de esquerda” se emocionavam ouvindo Detalhes, lembrando-se daquela filha de liberais que ele não podia namorar – afinal, seria uma derrota para a luta revolucionária. Essa patrulha existe até hoje, tanto que artistas de pobre repertório musical e muito estilo de protesto, ainda sobrevive como gênio. E nem quero falar do caso do Wilson Simonal – isso tudo fica para outra vez.
Agora é o momento de pedir encarecidamente que Roberto Carlos dê um tempo. O disco desse ano ainda tem momentos ótimos, como em Força Estranha, mas é fraco tecnicamente e artisticamente. É um retrocesso para quem esperava muito depois do Acústico MTV. E o hip-hop atravessado de Seres Humanos demonstra o erro de cálculo dele. A música é tolinha, e pouco acrescentará ao seu repertório.
E como fã, faço uma sugestão: siga o exemplo do maior cantor da história, Frank Sinatra. Fique fora um tempo, prepare o mundo para um retorno triunfal, vire cantor cult e venda horrores. Sinatra fez isso em 71, abandonando o mundo artístico com um show inesquecível em Los Angeles. Ficou dois anos parado, enquanto o mundo implorava por seu retorno. Em menor escala, claro, a falta que Roberto Carlos faria à música brasileira seria a mesma.
Quando voltou, em 73, o velho Frank lançou um disco só com músicas inéditas, escritas especialmente para ele (como Let Me Try Again, de Paul Anka) ou de recentes espetáculos da Broadway. Roberto Carlos, faça algo parecido, que haverá romaria de compositores à sua porta, pois eles sempre quiseram escrever para você. Nessa lista eu incluo nosso futuro ministro Gilberto Gil, Zé Ramalho, Djavan e tantos outros.
Para completar, faça um show como o Sinatra: transforme o espetáculo em um evento esportivo, e realize-o no Maracanã, para 50 mil pessoas – e com transmissão ao vivo para o País inteiro. Frank fez isso no Madison Square Garden, e revolucionou o mercado de shows nos Estados Unidos. Pode ser que isso não dê certo. Mas será bem melhor do que você anda fazendo.
Cristian Toledo é repórter de Esportes de O Estado