Palavra de acadêmico

A cassação do mandato de deputado federal do hoje cidadão comum José Dirceu de Oliveira e Silva extrapolou as fronteiras do País, e foi motivo de análise nos meios acadêmicos ligados à historiografia e ciência política.

Ponto para o ex-guerrilheiro, um dos mais denodados artífices da organização do Partido dos Trabalhadores, coordenador da campanha que levou o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo à Presidência da República, do qual foi chefe da Casa Civil nos primeiros vinte meses.

Mesmo ante a inevitável reserva com que Zé Dirceu passou a ser visto pela sociedade, trajetória de animal político por excelência como a sua reluz no currículo de pouquíssimos homens devotados à causa pública neste País.

Sem entrar no mérito da questão, ou seja, de assumir posição favorável ou contrária à conduta dos principais líderes do PT e do governo e, nesse aspecto, a ressonância da atuação do ex-chefe da Casa Civil assumiu proporção desmedida, não há como descartar o caudaloso desdobramento do mais rumoroso episódio político de 2005.

Episódio discutido, inclusive, pelo professor Kenneth Maxwell, cientista político e renomado brasilianista da Universidade de Harvard. A tese de Maxwell é que a saída de cena de Zé Dirceu enfraquece o governo Lula, mas, por outro lado, trará benefícios para o sistema político brasileiro.

O brasilianista admite que nem o impedimento do presidente Lula seria capaz de aprofundar a crise regimental, porque governos locais e regionais continuariam a exercer suas funções, impedindo a paralisação das instituições.

É uma opinião de quem está familiarizado com a história recente do País, e destarte a ser considerada como elemento formador da conceituação geral.

Maxwell lembrou que no Brasil sempre existiu relação próxima entre certos acontecimentos políticos e claros elementos de natureza conspiratória. Sempre que algumas reformas estão a caminho, constata o pesquisador, algo acontece para impedir o aprofundamento do processo.

Quanto à dificuldade prevista para o governo, cuja amplitude dar-se-á em 2006, o professor enfatiza que o cenário será partilhado na América Latina face às onze eleições presidenciais marcadas para a região. Quem viver, verá.

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