Países se reúnem para discutir reforma agrária e fim da pobreza

Brasília ? A discussão sobre o papel do desenvolvimento rural na superação da fome e da pobreza será retomada após quase três décadas. A 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural será realizada no ano que vem em Porto Alegre (RS).

A primeira edição do evento, promovido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), ocorreu há 27 anos. "O objetivo estratégico dessa conferência é recolocar a reforma agrária e o desenvolvimento na agenda internacional", disse o diretor da Divisão de Desenvolvimento Rural da FAO, Parviz Koohafkan.

Segundo Koohafkan, a reforma agrária é fundamental para a redução da pobreza e da fome. "A segurança alimentar do mundo está nas mãos de pequenos agricultores. Dois bilhões de pessoas vivem de pequenas agriculturas", argumentou. O diretor destacou que, além da reforma agrária, é preciso desenvolver serviços de apoio à agricultura e garantir investimentos para o setor.

Ele aponta que a retomada da discussão deve envolver "participação social" no processo. "O contexto da reforma agrária sofreu mudanças. Nos anos 60 e 70, a reforma agrária era uma iniciativa de governo. Agora, necessitamos de uma participação massiva de todos os setores da sociedade civil e pequenos agricultores em um processo de desenvolvimento rural e reforma agrária."

Nesta semana, representantes do governo e da sociedade civil participam de uma oficina para discutir as propostas brasileiras para a conferência. Na abertura da oficina, o ministro Luiz Dulci, da Secretaria-Geral da Presidência da República, afirmou que a discussão sobre reforma agrária "foi colocada de lado" por causa de interesses econômicos.

"Existem forças econômicas e forças políticas e ideológicas que desqualificam a cada dia a importância e a necessidade da reforma agrária como se fosse uma questão residual, no máximo, de política social compensatória e não uma questão estrutural do modelo de desenvolvimento", disse ele.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que é preciso compromisso ético dos países em relação ao desenvolvimento rural. "Infelizmente, dois bilhões de seres humanos sofrem graves problemas em relação à segurança alimentar. É um problema de ética", avaliou ela.

"Eu acho que a humanidade já produziu conhecimento, tecnologias, meios de sobrevivência em todos os sentidos da vida que dariam com certeza para suprir as necessidades dos seis bilhões de seres humanos que vivem no planeta."
O representante da FAO no Brasil, José Tubino, afirmou que o país foi escolhido para sediar a conferência pelo seu compromisso com a questão agrária. "O processo preparatório da conferência no Brasil é um exemplo de participação, de construção conjunta de uma posição de país que eu diria não acontece em outros países", justificou.

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