Em debate promovido hoje pela Comissão de Ciência e Tecnologia sobre as previsões de aquecimento global feitas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), o secretário interino de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Ruy Barros, afirmou que o Brasil tem apresentado bons resultados na redução das emissões de carbono, apesar de não ter uma meta formal sobre o tema. Segundo ele, o País reduziu essas emissões em 10% desde 1994, o que corresponde a 1,2 bilhão de toneladas de carbono. O secretário afirmou ainda que houve redução de 52% no desmatamento verificado nos últimos dois anos no País. O desmatamento é responsável por cerca de 75% das emissões de carbono no Brasil.
Barros disse também que há bons resultados em relação aos gases clorofluorcarbono
(CFC), que tiveram redução de mais de 10% no País, superior ao estabelecido pelo Protocolo de Quioto para os países desenvolvidos, cuja meta era de 5%. Ele lembrou que a partir deste ano o Brasil proibiu a importação de produtos que contêm esses gases, que destróem a camada de ozônio e contribuem para o aquecimento do planeta. Segundo Barros, uma tonelada de CFC tem o mesmo efeito de dez toneladas de carbono na atmosfera.
Ação humana
O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Carlos Nobre ressaltou que não há mais dúvidas de que as mudanças climáticas globais decorrem da ação humana. Nobre lembrou que os principais fatores responsáveis pelo aumento da temperatura do planeta são a queima de combustíveis fósseis (responsável por 80% das emissões de dióxido de carbono) e o desmatamento tropical (20% das emissões).
Segundo o pesquisador, "por sorte da humanidade" 55% do carbono lançado no ar são absorvidos pelos oceanos. Ele relatou, porém, que os oceanos ficam saturados no decorrer do tempo e vão deixando de absorver carbono, o que aumentará a concentração desse gás na atmosfera. Nobre disse que, mesmo que se estabilizasse a emissão de carbono nos níveis atuais (o que não é possível), o efeito da ação humana sobre o clima será irreversível nos próximos 20 anos.
Como exemplo do impacto da ação do homem, o presidente da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Murilo Flores, afirmou que no Brasil a agropecuária responde por 25% da emissão de gases causadores do aquecimento global (principalmente metano e óxido nitroso). Ele citou o rebanho de 5,6 milhões de suínos em Santa Catarina, que produz 9,7 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) por dia, resultante do metano liberado pelas fezes dos animais. Flores disse que um eventual aumento de 2ºC na temperatura média na região Sul impossibilitaria a produção de maçã.
Relatório do IPCC
Os dados coletados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) revelam que, mantidas as projeções atuais para a emissão de carbono, nos próximos anos o Brasil terá uma distribuição muito mais irregular de chuvas. A tendência é ocorrerem períodos mais longos de estiagem na Amazônia e no Nordeste e de chuvas mais concentradas e intensas no Sul e no Sudeste.
O relatório mostra que, no período industrial, a partir de 1750, a concentração de carbono na atmosfera passou de 280 para 379 ppm (partes por milhão). Mantidos os padrões atuais de emissão, as concentrações irão atingir 850 ppm em 2100, o que poderá causar aumento de 4º C na temperatura global. De acordo com os especialistas, nessas condições haveria mudança completa de todas as condições de vida na Terra. O limite suportável de concentração de carbono seria de 550 ppm, com elevação média de 2ºC na temperatura, que ainda permitiria manter o padrão de vida atual.
Outra constatação das pesquisas é que as noites brasileiras tornaram-se mais quentes, na mesma medida que diminuíram as noites frias. Atualmente, segundo ele, a média térmica do País encontra-se em 25,9º C. Para os próximos anos, as projeções indicam que irão variar de 26º C a 29º, de acordo com as medidas adotadas para reduzir o aquecimento global. No extremo, o aumento das médias térmicas poderá provocar a extinção da caatinga, levando à desertificação de grandes áreas do Nordeste.