É normal, e até mesmo recomendável, que nos primeiros anos de vida os filhos sejam o foco da vida dos pais. O relacionamento acaba ficando em segundo plano. Entretanto é preciso gradativamente fazer o caminho inverso, porque há sempre o risco dos filhos ficarem instalados no centro do relacionamento por toda a vida.

continua após a publicidade

Essa questão é muito difícil de ser resolvida porque de um lado temos o relacionamento conjugal, com suas complicações inerentes, e de outro, as crianças, com a receptividade afetiva à flor da pele. Dar e receber amor num casamento é sempre tarefa complexa, pois envolve as inseguranças que cada um carrega consigo. Já na relação com os filhos pequenos, tudo fica mais simples e direto. O medo da rejeição afetiva é muito menor. Casamento envolve sexo e carinho, e isso não é um jogo simples, onde se ganha sempre, muito ao contrário.

À guisa do bom exercício da paternidade (obsessão típica dos nossos dias), acaba-se direcionando em demasia a atenção aos filhos e à vida em família, gastando muito da energia e atenção que deveriam ser dispensadas ao próprio casamento. As afetividades, nesse passo, são acomodadas de um modo torto, porque o caminho natural do amor numa família passa primeiro pela relação marido e mulher e, depois, pela de pais e filhos. E, dentro dessa dinâmica familiar, cria-se uma dependência mútua e excessiva, a qual compromete o processo de maturidade emocional dos filhos.

Assim, quando os filhos chegam ao fim da adolescência, torna-se evidente o completo atrelamento da vida de pais e filhos. Nesse cenário pais tentarão (consciente ou inconscientemente) evitar o amadurecimento dos filhos porque não querem perder o seu papel de provedores da estabilidade emocional e financeira; e filhos sucumbirão à tentadora oportunidade de não crescer. É a busca neurótica da eternização da vida em família.

continua após a publicidade

Essa história tem dois finais prováveis. O primeiro: filhos adultos com vida social e afetiva desorganizada, mas com pais ativos o bastante para repetir o mesmo enredo com os netos. O segundo: filhos adultos responsáveis por seu próprio destino e libertos desse cordão umbilical patológico, mas com pais deprimidos em busca por um sentido numa vida sem filhos.

Djalma Filho é advogado – djalma-filho@brturbo.com.br

continua após a publicidade