Aproveitando o momento de queda generalizada dos preços dos ativos no mercado internacional, o governo brasileiro anunciou a recompra, numa única operação, de até US$ 4 bilhões de papéis da dívida externa com vencimento entre 2007 e 2030. O anúncio da megaoperação foi bem recebido pelo analistas do mercado financeiro e provocou uma queda imediata do risco Brasil. A operação, iniciada ontem, será concluída na próxima quinta-feira. Ao todo, 20 tipos diferentes de títulos atrelados ao dólar e ao euro foram incluídos na lista dos papéis que podem ser adquiridos pelo Tesouro. O estoque desses papéis soma hoje no mercado cerca de US$ 23 bilhões
Como os preços dos papéis no mercado externo estão baratos – por causa da volatilidade causada pelas incertezas com os juros nos Estados Unidos, que afugenta os investidores dos ativos dos mercados emergentes -, o governo deve recomprar os títulos por um valor atrativo. O limite máximo de US$ 4 bilhões também aumenta a concorrência e favorece o obtenção de melhores preços para o Tesouro
A operação é coordenada pelos bancos Credit Suisse e Morgan Stanley e amplia o programa iniciado pelo Tesouro e Banco Central (BC) em janeiro. O governo vem recomprando papéis de curto prazo (vencimento até 2010) e já concluiu a recompra dos bradies, títulos atrelados à reestruturação da dívida após a moratória da década de 80. No programa original, que será mantido até o fim do ano, o BC adquire os papéis no mercado secundário em operações diferentes
Segundo fontes, a nova operação tem dois grandes objetivos. No grupo de papéis com prazo de vencimento mais curto, a intenção é reduzir ainda mais a vulnerabilidade externa do País, com a diminuição da necessidade de financiamento externo do governo – os dólares que o governo tem que obter para pagar os papéis a vencer. Essa redução melhora a percepção de risco dos investidores sobre a economia brasileira e abre espaço para o País receber o "grau de investimento", concedido pelas agências internacionais de classificação de risco – espécie de selo de qualidade para orientar os investidores e que permite receber volumosos recursos dos fundos de pensão americanos
A medida já era planejada antes do início das turbulências recentes no mercado, que baratearam os preços dos papéis. Segundo uma fonte, o momento é favorável à operação porque o Brasil tem reservas internacionais suficientes (US$ 63,57 bilhões) e fluxo de dólares positivo por conta da balança comercial. Os recursos sairão das reservas internacionais do País, abrindo espaço para o BC fazer novas compras em mercado de dólares.