Valquir Aureliano / GPP

Segundo pesquisa da PUC, em parceria com a OAB, em 21,97% das ocorrências
o pai é o principal agressor.

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A maioria dos crimes cometidos contra crianças e adolescentes em Curitiba tiveram no pai o agente principal, com 21,97% das ocorrências, seguido de conhecidos, com 18,68%, e dos padrastos, com 15,38% dos casos. O dado é de pesquisa feita pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) em parceria com a seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Foram analisados 99 processos nas 11 varas criminais da capital. O trabalho deve embasar solicitação da OAB para a criação de uma vara específica para crianças e adolescentes.

Os tipos de crimes mais comuns encontrados são o atentado violento ao pudor (61,11%) e o estupro (33,07%). As outras formas de violência contra a criança, particularmente maus-tratos, somam 0,19%. De acordo com a delegada do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria), Ana Cláudia Machado, normalmente os casos de maus-tratos são considerados de pequeno potencial ofensivo no Código Penal. Por isso acabam registrados como termo circunstanciado, afeto ao Juizado de Pequenas Causas.

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Os homens continuam sendo os principais agressores (92,23%). A maioria (69,69%) com o 1º grau completo. Pessoas com curso superior completo somam 7,07% entre os agressores. "Provavelmente por serem mais escolarizados não deixam o caso chegar ao Nucria", acredita a professora Jimena Cristina Gomes Aranda, coordenadora da pesquisa.

Meninas

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Entre os agredidas, as meninas são 79,8% dos casos analisados. A idade mais suscetível está entre 6 e 10 anos (46,08%), seguida de 11 a 14 anos (27,82%), 0 a 5 anos (17,39%) e 14 a 18 anos (8,69%).

Para a presidente da Comissão da Criança e Adolescente da OAB-PR, Márcia Caldas Veloso, um dos dados mais alarmantes é que apenas 14,14% das vítimas pesquisadas foram encaminhadas a um tratamento. A grande maioria (85,85%) não teve nenhuma assistência. "É preciso que a vítima, o agressor e as famílias sejam tratadas", pede.

Segundo ela, somente com uma vara específica isso será possível. Veloso também critica a morosidade da Justiça nesses casos, apesar de constitucionalmente e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente exigirem prioridade absoluta.

Entre os 99 processos pesquisados, 67,41% estão em fase de diligência, 25,84% estão em fase de sentença, 2,24% foram arquivados por prescrição e 2,24% estão em defesa prévia. "Os processos são tratados como mais um nas Varas Criminais", reclama. "Não há prioridade." Um dos casos citados por ela é de uma criança que sofreu violência com 3 anos de idade. Hoje ela está com 8 anos, recebeu alta na parte emocional e psicológica, mas o processo continua tramitando. "A cada audiência ela vivencia novamente o trauma passado", lamenta.