Padre brasileiro canta em missa para evocar ajuda divina

O conclave iniciado hoje no Vaticano para escolher o próximo papa foi aberto por uma voz brasileira. Ao lado do decano do Colégio de Cardeais, Joseph Ratzinger, que presidiu a missa que inaugurou oficialmente o processo, um brasileiro foi o responsável pelos cantos litúrgicos durante a cerimônia. A voz era do padre de São Paulo, Marcos Pavan, que emocionou os religiosos, autoridades e fiéis que foram até a Basílica de São Pedro para presenciar o momento histórico.

Pavan, de 42 anos, era da arquidiocese do Campo Limpo e, em 1991, se mudou para Roma, inicialmente para estudar teologia. Hoje, é o principal tenor do coro da Capela Sistina, solista e especialista em cantos gregorianos. Pavan, que já foi cantor de opera do Teatro Municipal de São Paulo, já havia cantado os salmos durante o funeral do papa João Paulo II e é atualmente o maestro do coral infantil da Capela Sistina.

Hoje, foi a vez de cantar em uma missa que tinha como objetivo pedir ajuda divina no processo eleitoral. Em um ambiente de expectativa e até de certa tensão, a voz brasileira marcou o ambiente.

Enquanto Pavan tinha a responsabilidade de cantar a liturgia em uma missa observada por todo o mundo, uma família de brasileiros estava entre os fiéis que lotaram a Basílica. Sergio Oliveira, sua mulher e seus filhos viajaram da França até Roma para o início do conclave.

"Sempre queríamos vir até Roma e escolhemos esse momento para fazer essa viagem". afirmou Oliveira, de São Caetano e que hoje mora em Toulouse, na França. "Percorremos mil e duzentos quilômetros", afirmou, sem saber se conseguiria permanecer na capital italiana até a definição de quem seria o novo papa.

Sua filha mais velha, Gabriela, de nove anos, estava enrolada em uma bandeira brasileira durante toda a missa. Mas o pai garante que não está torcendo necessariamente para que um dos cardeais brasileiros se tornem papa. "Esperamos que o Espírito Santo inspire os cardeais e que o melhor seja escolhido", disse o brasileiro de 37 anos.

Quanto ao conteúdo conservador da missa realizada pelo cardeal Joseph Ratzinger, Oliveira acredita que nem todos os cardeais pensam da mesma forma. Ratzinger usou a missa para fazer uma série de alertas à Igreja e deixou claro seu ponto de vista ortodoxo em relação aos dogmas do catolicismo, insinuando que uma flexibilidade nas doutrinas seria conseqüência de uma "fé infantil".

"Assim como o Brasil, a Igreja também tem todas as cores e quem escolherá o próximo papa será o grupo de cardeais", afirmou Sergio Oliveira, que se classifica como um católico praticante. Mas ele admite que a opinião pública não deve ser o fator que defina a doutrina da Igreja. "Há um limite para o que pode ser mudado", completou, reconhecendo que não é fácil levar uma vida como a Igreja prega.

"Sabemos que não é simples, mas optamos por isso", disse.

Ele conta que sua família é contra o uso de contraceptivos e que ele mesmo é o nono filho de uma família de dez irmãos. "Se meus pais tivesse adotado esse método, eu provavelmente não existiria", concluiu.

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